Não há um benfiquista que não apoie o presidente no profundo saneamento que urge fazer
A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Quem não conhece aquela máxima do futebol que diz que "quem não marca, sofre", ou, em linguagem mais prosaica, "quem não mata, morre"? No Benfica estamos assim: ou o Rui Costa acaba com o estado letárgico do nosso futebol ou o estado letárgico do nosso futebol acaba com o Rui Costa.
Não há um único benfiquista que não apoie o presidente no profundo saneamento que urge fazer no plantel, no staff, na estrutura, no diabo que carrega o Benfica de cima a baixo; mas nenhum benfiquista lhe perdoará se em tempo útil não o fizer. A deslavada vitória em Arouca contra uma das mais fracas equipas da liga não atenuou esta necessidade - agravou-a.
2 - Se acomode ou se incomode - é esta a dicotomia que marca o momento encarnado. Num grupo de trabalho mais do que acomodado, jamais as novas dinâmicas que Nelson Veríssimo pretende implementar "com o comboio em andamento" conseguirão fazer a locomotiva mover-se nos carris que conduzem às exibições de encher o olho e aos resultados que valem títulos.
Pergunta-se: não há quem dê ali um murro na mesa? Quem trate de ferir o orgulho daquela gente? Quem os tire da aburguesada e anticompetitiva zona de conforto? Caramba, só os adeptos estão incomodados?
3 - Quando chegar a hora de escolher o próximo treinador, Rui Costa que tenha em atenção que o Benfica precisa de um bom profissional do treino e da tática, sim senhor, mas precisa ainda mais que esse profissional seja um líder da ponta dos cabelos às unhas dos pés.
E, para quem não sabe o que isto significa, para quem confunde líder com chefe, liderar com mandar ou autoridade com autoritarismo, aconselho (é certo que em benefício próprio por se tratar de uma edição da Prime Books) a leitura do livro "Os Equívocos da Liderança" - de Luís Lourenço, que é quem em Portugal melhor estuda e explica os fenómenos da liderança.
4 - Segundo um recente estudo do observatório do futebol CIES, que cobre 31 ligas europeias desde o início da época 2018/19 até à data, o Benfica, que é quem mais ataca e mais golos marca em Portugal, precisa de criar 49 grandes oportunidades de golo por cada penálti que é assinalado a seu favor. Não há outro clube na Liga que precise de tanto: nem o Tondela, nem o Moreirense, nem o Santa Clara ou o Marítimo, ninguém. E trato de responder já à pergunta que o leitor está por certo a fazer: o FC Porto precisa apenas de 24 e ao Sporting bastam 22 - ambos menos de metade do Benfica. Se isto não dá que pensar, o que é que dá que pensar? (Sexta-feira à noite beneficiámos do quarto penálti nos últimos 53 jogos; e foi o primeiro - sublinho, o primeiro - que nos colocou em vantagem no marcador de um jogo; os outros três não serviram para nada.)
5 - Em se tratando do Benfica, o segredo de justiça é uma porta aberta ao voyeurismo futebolístico que assegura audiências; qualquer pirata informático é imediatamente elevado à condição de craque da investigação ao serviço das equipas da Polícia Judiciária ou do Ministério Público; as toupeiras da comunicação social transformam-se, como que por milagre, em preciosas fontes que a ética - veja-se bem, a ética! - impede de revelar; e, ao que isto chegou, as escutas privadas, mesmo que desenquadradas do processo para que foram autorizadas, são apresentadas como notícias de indesmentível interesse público. Já levei tantas injeções deste vírus, que estou dele mais imunizado do que do Covid com as três doses da ordem.