PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - A história vem à memória quando vejo um jogador aparecer a fazer quatro golos num jogo. É sobre Jorge Griffa, olheiro argentino, quando, nos anos 80, viu um miúdo gordito fazer, num jogo da regional, um "póquer" de golos e quis levá-lo para o Newell"s Old Boys mas chocou com a opinião dos diretores que não acreditavam no valor desse barrigudo.
Griffa teve, porém, um argumento demolidor: "Ninguém marca quatro golos por acaso!". E trouxe-o. Esse goleador gordito era Batistuta.
Lembrei-me da história agora vendo como Vítor Oliveira, Vitinha, fez também quatro golos pelo Braga ao Santa Clara, para a Taça. Aos 21 anos, ele tem sido uma aposta de Carvalhal já desde a época passada. Neste caso, nem a sua morfologia pode levantar suspeitas. Tem tudo que um n.º 9 deve ter. Passada larga com dimensão atlética, mobilidade, técnica, agilidade, remate e passe. Quando há semanas se romanceou o golo doutro menino, o Roger (com 16 anos), o que mais me impressionara nesse lance não fora o romantismo do golo (cabeceou com baliza aberta) mas a qualidade do passe/centro largo feito na passada na medida certa por... Vitinha.
2 - Agora, há que gerir o momento até porque quem se lembra bem do percurso dele, recorda que quando Carvalhal o lançou na época passada, contra o Nacional, ele falhou logo um golo a um metro da baliza aberta, atirando por cima da barra.
A avaliação dos jogadores deve ter sempre um ponto racional que evite os extremos porque às vezes eles fazem coisas que estão acima do seu valor e, noutras, fazem coisa que estão abaixo. Assim, nem naquela altura se pensou que, afinal, ele era uma falsa promessa, nem agora se deve pensar que é um fenómeno.
Nenhuma destas avaliações é a medida certa do seu valor. Esse está no meio e é esse nível médio que Carvalhal (o Braga) saberá avaliar/medir para enquadrar o presente e crescimento de Vitinha. Por isso, mesmo após estes quatro golos, não me admirava que não fosse titular no próximo jogo.
3 - Também com a vocação goleadora acesa, Jota Silva seguiu na Taça, pelo Casa Pia contra o Farense, o trilho de golos que leva na II Liga. Neste caso, não se fala bem dum n.º 9. É mais um avançado móvel que arranca desde a faixa esquerda e finaliza bem com a direita. Tem velocidade e a mobilidade truculenta mais de um extremo mas com baliza no fim das jogadas.
Com 22 anos, já passou por Espinho e Leixões. Neste caso, acho que também ele próprio busca perceber o seu verdadeiro valor. Um clube de nível médio da I Liga seria o ideal nesta fase. Também ninguém marca tantos golos por acaso mas, vendo-o jogar, projeto mais a sua carreira como o tal jogo para... aparecer a rematar e não para... estar. Espécies diferentes mas que não enganam.
Leça: a sensação da Taça
A grande sensação da Taça vinda do Campeonato de Portugal é o Leça. Após eliminar o Arouca (nos penáltis), afastou agora o Gil Vicente (1-0). O onze que jogou nestes dois jogos foi praticamente o mesmo. A diferença foi ver como titular, neste contra o Gil, um médio que (formado no Sporting) não se consegui firmar depois ao mais alto nível (andou por Paços Ferreira e V. Setúbal até nos últimos tempos Angola e Roménia) apesar da qualidade técnica do seu jogo, como um médio de toque e jogo requintado: Diogo Rosado. Aos 31 anos, joga da mesma forma nas profundezas do nosso futebol. O golo que marcou, com um remate em arco de fora da área falou por toda essa sua carreira de valor meio perdido.
Bem orientada por Luís Pinto, este onze leceiro joga num esquema de três centrais (3x5x2), com os veteranos Kiki Ballack e Materazzi a mandar no eixo recuado e um triângulo do meio-campo agressivo na pressão, onde, ao lado dos passes de Rosado, estão o pêndulo Henrique Martins (23 anos) a pivô e o médio-ofensivo Diogo Ramalho (22) a apoiar o ataque, no qual Nuno Barbosa (21) é um n.º 9 de ataque à profundidade que nunca deixa os centrais adversários descansados. Tal como sentiu o Gil, que nunca foi superior no jogo e perdeu, sem apelo, nos 90 minutos.