PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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1 Há muitos anos, as férias de verão não eram "grandes" só de nome. Para além de dilatadas no tempo, as férias dessa época eram passadas na rua.
Sem eventos programados, sem trabalhos de casa, as crianças tinham autonomia na forma como decidiam preencher o imenso tempo que tinham entre mãos. Na minha rua, fazíamos de tudo: futeboladas intermináveis, corridas de caricas, gincanas improvisadas de bicicleta Os dias quentes escorriam lentamente e só as chamadas de casa nos faziam regressar ao lar para jantar com os pais.
Uma altura houve em que a miudagem lá da rua tinha por hábito ir ver os treinos do Vitória. Às vezes íamos junto da entrada dos jogadores e os mais ariscos arriscavam pedir para irmos todos para o relvado apanhar bolas. Recordações que não mais esquecem. Subir do túnel (ainda e por bons anos do lado nascente) para o relvado no meio dos craques e ouvir o som dos pitons nas escadas. Lembro-me de estar atrás de uma das balizas e estranhar a "dureza" daquelas bolas que os jogadores chutavam com aparente facilidade.
Outras vezes, íamos para as bancadas, de onde me lembro bem de ficar impressionado com o lado ríspido de António Morais com os seus jogadores, a quem destratava à frente de toda a gente. Outros tempos de uma grande abertura do clube, impensáveis nos dias de hoje, em que se impõe um secretismo que deixa entrever muito menos do que sucedida anteriormente.
Ainda assim, iniciativas como as desta semana de abertura do clube à comunidade continuam a ser importantes. Valha a verdade que em Guimarães é fácil fazê-lo. É verdade que os vitorianos são muitíssimo exigentes com os seus dirigentes. Mas também é verdade que não é preciso muito para dizerem presente. Uma comunidade profundamente envolvida com o seu clube. Sempre.
2 Esta semana terminou finalmente (espera-se) uma tentativa de se reescrever a história da competição futebolística em Portugal. Os palmarés dos clubes têm naturalmente, importância, mas não deixa de ser estranho ver emblemas investirem na interpretação de eventos ocorridos há cem anos, quando todas as suas energias deveriam estar concentradas em aumentar o seu pecúlio nos dias de hoje.