PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Opinião de José João Torrinha
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As pessoas da minha idade e mais velhas viveram a ida ao futebol de uma forma que sabem ser irrepetível. Desde logo, por isto: os jogos realizavam-se praticamente todos ao domingo à tarde e à mesma hora. Na televisão só se via resumos. Jogos em direto, esses, eram uma raridade. No estádio, alguns adeptos, munidos de transístor, iam acompanhando a evolução dos resultados um pouco por todo o país.
Assistia-se aos jogos em condições bem menos agradáveis do que hoje: à chuva e ao sol. Sem lugar marcado, o que obrigava a que se fosse muito cedo para o estádio, se se queria ficar num lugar decente. Sentado no cimento, pois as cadeiras estavam reservadas para muito poucos. Ou então de pé.
E ainda assim, se assistirmos hoje a alguns desses resumos que passavam no Domingo Desportivo, uma coisa impressionava: a quantidade de gente que assistia aos jogos. Em Guimarães nunca tivemos falta de público, mas em muitos outros estádios viam-se multidões a assistir às partidas.
Sei bem que esse é um tempo que não volta. Os clubes estão hoje fortemente dependentes das receitas televisivas e as televisões, claro está, não querem sobreposições de jogos. Esses domingos épicos passados no estádio ou a ouvir o relato no carro em que a família fazia o seu passeio dominical, são apenas memória.
Ainda assim, foi-se longe de mais. E os jogos disputados em dia e hora que não lembram ao careca instalaram-se nas nossas vidas. Não é assim que se vai conseguir chamar as pessoas ao estádio e disso mesmo deu conta, há umas semanas, a Associação Vitória Sempre, chamando a atenção de que o Vitória, um dos clubes que mais contribui para a média de assistências nacional, era dos mais castigados em termos de jogos à segunda.
Voltei a lembrar-me disto porque, tendo o jornal Público atestado a veracidade do que se diz no comunicado, o jornalista que o fez foi ontem verberado pelo provedor do jornal, porque, segundo ele, estar no topo dos clubes com mais jogos à segunda só poderia significar que o Vitória era o clube com mais partidas nessa condição, sendo que havia um que teria mais um jogo do que nós. Até no dicionário o provedor se embrenhou para definir o que "topo" quer dizer.
É apenas a opinião de um provedor de um jornal. Mas estamos perante um exemplo de como muitas vezes em vez de nos preocupamos em vez de olhar para a floresta, nos fixamos na árvore.