PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Há semanas, Conceição brincou com a designação de 9,5 para definir a posição e como joga um jogador que sendo avançado vive entre diferentes expressões.
No limbo entre linhas, pode ter relação com o golo (remate) como com o jogo (passe). Perante um exemplar destes (e reconhecendo-lhe potencial) a chave está, muitas vezes, em descobrir qual o seu ponto menos forte que se deve trabalhar mais, deixando o ponto forte surgir naturalmente.
Namaso é um desses casos híbridos de várias metades que é importante saber como juntar. Os últimos jogos revelam como o seu ponto de crescimento foi a movimentação. Sobretudo sem bola. Com a essa evolução, passou a selecionar melhor os espaços onde se colocar e, detetando-os vazios, desmarcar-se. Chegado a esse local, evoluiu no passe. No fundo, o remate é hoje para Namaso o último elo com o jogo em campo, mas mesmo quando a oportunidade para este surge ele está em melhor posição.
É a tal prioridade de dinâmicas dum "nove e meio". Começar por saber afastar-se da zona de remate (iludindo marcações) e passar a marcar a diferença na zona de passe (que criou com o upgrade de movimentação). Como tudo isto funciona, naturalmente, melhor numa dupla de ataque encontrou em como joga o FC Porto o melhor habitat tático para esta sua reinvenção que é, no fundo, o encontro de como é jogador no global.
2 Outro jogador que, neste campeonato, segue os mesmo traços de especialização de expressão dum n.º 9,5 é André Silva no Vitória. Neste caso, o seu início, a chegar ao nosso futebol, até foi mais por esses terrenos, desde a faixa ou atrás do ponta-de-lança, mas depois em Arouca, um treinador, Armando Evangelista, meteu-o como 9 mais clássico e ele destacou-se assim, vendo sobretudo baliza. Até um golo do meio-campo fez.
Em Guimarães, começou a jogar na mesma posição, mas cedo se viu que a forma como jogava quase sempre de costas para a baliza, a receber, indicava ter outro jogador dentro dele. O tal 9,5 que agora outro treinador, Moreno, reinventou num sistema de "2x1" a atacar, metendo-o a receber e dar em apoios numa dupla de segundos avançados. Não perdeu remate (que golo ao Santa Clara), mas passou a ter sobretudo a missão de a movimentação (receção-passe) de leitura entre linhas que é o seu ponto forte.
Neste caso, a chave esteve em trabalhar (exponenciar no sistema da equipa) as suas forças e não em trabalhar nas suas fraquezas. Nem sempre, portanto, o processo é igual, depende de onde o jogador parte em ternos de posição e fundamentos de jogo.
Namaso e André Silva, duas provas de como ser treinador é, antes de tudo, saber de jogadores. Conhecer o que levam dentro.
Porque quebrou tanto o Estoril
A equipa continua com uma boa almofada para a linha de água, mas Ricardo Soares vai ter muito trabalho para reabilitar o futebol deste Estoril. Após um início de época em que deu boas indicações, a equipa foi perdendo consistência. Sem mexer muito no sistema, Veríssimo não conseguiu dar-lhe identidade a meio-campo e acabou a confundir processos e referências desse sector, que foi desde um trinco como Mor Ndiaye ao regresso de Gamboa sem as rotinas do passado. A saída de Rosier tirou ao onze o melhor n.º 8 de ligação entre as diferentes linhas do sector. João Carvalho é um bom interior, mas cada médio tem uma linguagem própria. Ou seja, o sector não fala coletivamente. Hesitou entre fixar um "10" no sector. Geraldes tem um jogo muito só seu e Lea-Siliki, com maior poder de rutura, entra para alterar ideia do sector nunca se firmando através da suas características.
No ataque, a aposta em Cassiano, um bom n.º 9 mas essencialmente de choque, foi claramente contranatura para o estilo da equipa. Tiago Gouveia joga muito mas está desligado dos melhores fundamentos de jogo. A equipa necessita urgentemente de criar referências. Mais do que um "onze-base" ter um "cinco-base" que lhe permita agarrar-se taticamente em campo.