Na Luz, é difícil distinguir estratégia de mansidão e mansidão de incompetência
A JOGAR FORA - Um artigo de opinião de Jaime Cancella de Abreu.
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1 Logo que derrotado o Santa Clara, o Sporting colocou a sua máquina de propaganda a falar de Lucílio Batista.
Do lado do Benfica, quiçá a bem do saudável ambiente que Rui Costa deseja para o futebol português, ninguém tratou de lembrar que nesse longínquo jogo o golo leonino foi precedido de falta sobre Maxi Pereira e que uma entrada de Polga acabou com a época de Suazo.
Já em Leiria, testemunhado que foi um penálti não assinalado a quem puxou Henrique Araújo para o impedir de cabecear para golo, ninguém se indignou a ponto de levantar a voz para o protesto que se impunha - no campo e fora dele.
2 Ainda em Leiria, vimos Palhinha travar quase todas as transições do Benfica com recurso a faltas - duas delas merecedoras de cartão amarelo. No final, rezam as estatísticas, fez sete faltas sem que visse a cor de (ao menos) um cartão. Sabemos que os amarelos não valem para Palhinha o mesmo que para todos os outros jogadores que vão evoluindo pelos relvados do planeta Terra, mas isso jamais podia ter inibido os nossos de aplicarem às transições do Sporting o mesmo tipo de faltoso antijogo, nem desobrigado a estrutura de bradar contra o vergonhoso tratamento de favor dado ao inimputável trinco leonino.
3 A forma insuficiente como jogámos na Amoreira, no Dragão ou na Luz com o Moreirense e o Gil Vicente não nos podia ter impedido de apontar a tempo e horas os erros arbitrais que tiraram ao clube os pontos que o manteriam colado ao topo da classificação. Será, porém, pior se o puxão de orelhas interno tiver demorado tanto a ser dado quanto o "basta" que Rui Costa gritou na direção da arbitragem na noite de quarta-feira. E ainda pior será se o impacto desse puxão de orelhas vier a ser tanto quanto o da entrevista-raspanete que deu a certa altura da época passada: zero. Não obstante ter agora afiançado que sabe o que está a fazer, até que se conheçam medidas concretas os adeptos continuam a ter dificuldade em distinguir estratégia de mansidão e mansidão de incompetência.
4 Veríssimo desejava o necessário emagrecimento do plantel e os adeptos a ansiada limpeza do balneário. Saiu Ferro, que renovou até 2026 (não vá ele, lá na Croácia, virar central do valor da cláusula de dezenas de milhões de euros); saiu Gedson, que foi para onde dispõe do estranho cartel que aqui ninguém lhe reconhece; ficou Pizzi, que tem o nocivo peso que tem no balneário, mas a quem vão impondo as humilhações próprias de quem fica sentado no banco enquanto a equipa joga o pouco que joga (isto dificilmente terá um final feliz); ficou também André Almeida, que leva mais tempo a recuperar a sua posição do que o árbitro a chegar à nossa área; e ficaram mais uma série de "monos" - o termo é do Bruno Lage, um expert que a estrutura não soube a seu tempo defender e preservar.
5 "Quando não há planeamento, temos de rever objetivos", explicou Sérgio Conceição, como que a dizer que "quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga". Para o lugar de Luis Díaz veio Galeno, que o clube vendeu ao Braga por 3,5M€ para agora o ir recomprar por 9 M€. Em vez de ficarem furiosos com a venda do colombiano, os adeptos deviam antes questionar a forma como a SAD foi conduzida ao ponto de pela primeira vez ter necessitado de vender um super craque a meio de uma época com objetivos por cumprir. Não sendo estratégia, só pode ser incompetência - porque de mansidão é que ninguém os pode acusar!