HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Ter Gonçalo Ramos ou não ter. Eis a questão. E como resolvê-la, sabendo que Schmidt não gosta muito de mudanças. Dois caminhos: ou pegamos naqueles em quem mais confiamos e os encaixamos na equipa nem que se corra o risco de ela ficar disforme; ou então respeitamos o padrão definido e colocamos a jogar quem melhor se adequa a esse desenho.
Porque ter Musa - que não tem a capacidade (leia-se talento) de Gonçalo Ramos nem para lá caminha - é sempre melhor do que ter os seus derivados. Rafa como uma espécie de requeijão sensaborão, deambulando na frente sem proporcionar referências ao resto da equipa. A entrada do avançado croata fez o FC Porto - superior durante toda a primeira parte - recuar as suas linhas e não encontrar meios para furar e ferir os encarnados, tal como aconteceu até ao intervalo.
Os dragões - que estão em processo de reconstrução sobretudo num miolo necessitado de soluções "menos iguais" - confiam no tempo e no trabalho de laboratório para desenvolver várias equipas dentro de um só corpo. Ter Conceição ou não ter. Eis a resposta.
Di María: sem mácula
É certo que está lá Neres, por lá passou Draxler, mas o meio-campo e linha avançada encarnada necessitavam de um intérprete mais hábil em termos de desequilíbrio individual, que fugisse um pouco de um padrão - Aursnes, Neves, João Mário e Rafa - que tem múltiplas virtudes de equilíbrio, mas a quem falta aquele "toque de Midas" para marcar a diferença no momento certo. O golo que apontou é consequência dos seus atributos: execução pronta, repleta de técnica, em que não parou para ajeitar a bola mais para aqui ou para acolá. Cresceu na segunda parte ao ritmo da equipa e desequilibrou em várias ocasiões. Início em grande.
Galeno: inconformado
Merecia o monumental golo que apontou já nos descontos, que justamente teria coroado uma exibição de arromba e, ressalve-se, plena de garra e de positiva atitude de quem detesta estar a perder. De facto, a Galeno só parece mesmo faltar melhorar no capítulo da definição: entrada de rompante na jogada inicial e exploração da zona interior do lado direito encarnado, tal como aconteceu na Luz. Sem hesitações no duelo individual que travou com Bah, levou por várias vezes a melhor (também às custas da sua velocidade) e, por pouco, não fez mossa. Terminou como lateral esquerdo, protegendo o bloco e iniciando processos de contra-ataque em cenário difícil. Muito bom.
Jason Remeseiro: boa surpresa
Depois da surpreendente eliminação do Vitória diante do Celje, é quase um imperativo nacional apoiar o Arouca no jogo da segunda mão, em prol do empoderamento de uma classe média do futebol português que tanto necessita de ter equipas na fase de grupos da Liga Europa ou Liga Conferência. Excelente a exibição de Jason Remeseiro: hábil tecnicamente, esteve nos dois golos da equipa e assinou um cardápio de soluções que contemplaram desde assistências prontas com o peito a colocar os colegas na cara do golo a desequilíbrios imediatos a um só toque, como aconteceu no golo de Mujica. Partindo da direita para o meio, teve liberdade para definir com critério. Excelente.
João Neves: renovação
Renovação também por uma questão de estaleca emocional. Segurou a equipa no período mais conturbado da temporada passada e guiou-a até ao título; apesar de só ter 18 anos, foi dos mais sólidos da seleção de sub-21; e, no primeiro jogo da nova época, foi titular e um dos melhores em campo. Pés e cabeça não tremem.