PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 É o maior desafio futebolístico ao verdadeiro mapa de continentes do mundo. Isolada na Oceânia, sem apuramento direto, a Austrália passou a jogar na Ásia.
Deixou no passado os velhos confrontos com a Nova Zelândia e partiu, para, do golfo ao médio oriente, passando pelo sol nascente (o Japão que os afastou no seu grupo de qualificação), criar uma nova existência asiática para o "futebol dos cangurus". Nesta viagem por paragens distantes de casa, acabou a conquistar o apuramento num play-off com o Peru!
Esta mudança de continente foi, porém, decisiva para a Austrália passar a ser presença nos Mundiais. Após um longo ciclo de inspiração de jogo britânico, os "socceroos" abriram as suas influências a outros estilos e com muitos jogadores na Europa, criou uma nova identidade com maior relação com a posse de bola.
Partindo dum 4x2x3x1 que ataca em 4x4x2, essa transformação deve-se à atual principal figura do onze: Hrustic. O nome revela as origens bósnias mas ele já nasceu na Austrália, onde começou a jogar até se mudar com 15 anos para as escolas do Nottingham Forest. Seria, porém, na Holanda, no Groningen, que faria a estreia sénior. Venceu Liga Europa com o Eintracht Frankfurt e agora, com 26 anos, mostra a maturidade do seu futebol em Itália, no Verona, e na seleção em que é o n.º10 que pega no jogo nas entre linhas ofensivas de último passe. Noutros lances, rompe desde trás, dependendo da ação do ponta-de-lança que é Mitch Duke, experiente a jogar no Japão, ou MacLaren, mais talentoso, melhor marcador da A-League australiana, com oportunismo em busca da baliza.
2 O coração da equipa australiana está na combatividade do meio-campo com a dupla Mooy-Irvine, dois médios-centro que lutam por todas as bolas, mas onde se destaca o "perfil lenhador" de Mooy a arrastar a equipa para o ataque, em que a maior criatividade surge nas faixas com Leckie (que também pode jogar como "falso 9") e Mabil, que jogou no Paços de Ferreira (e está agora no Cádiz) com uma história de vida incrível que o levou de refugiado do Sudão para o sonho futebol profissional.
A sua ligação à Austrália deve-se aos pais, que mais tarde fixaram-se nessas paragens para começar uma nova vida. Louco pela bola, Mabil começou a jogar no anónimo Campbelltown City. Uma história incrível, futebol e vida, que diz muito de que matéria é feita a essência de Mabil e deste onze australiano. Em termos posicionais, ele joga como extremo-esquerdo enquanto Boyle é o ala na direita.
3 Como nota exótica de maior sucesso emergente futebol da América Central, a Costa Rica volta, com o enorme Keylor Navas nas baliza, a surgir no Mundial. Aos 37 anos, Bryan Ruiz, no seu ultimo fôlego no Alajuelense, já não tem a influência tecnicista de outrora, mas, na génese, o "futebol tico-tico" (nome que vem dos nativos do país, conhecidos historicamente como "ticos") continua a expressar-se sobretudo pela técnica, que sem grandes estrelas lança desde a faixa direita, um criativo canhoto de 18 anos: Bennette, já nos relvados ingleses, no Sunderland, que o foi buscar ao remoto Herediano onde o seu talento começou a despontar. Descubram-no!