PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - Wayne Szalinski não é um nome de um treinador famoso. É uma personagem de um filme disparatado sobre um cientista louco que inventa uma máquina que diminui o tamanho dos objetos e, sem querer, encolhe os próprios filhos. Confrontado pela mulher, não teve outra saída e reconheceu o que fizera: "Querida, encolhi os miúdos!"
Lembrei-me desta história vendo como, na derradeira jornada, dois jogadores "fisicamente encolhidos" devolveram-nos, com a bola no pé, a essência da resposta sobre "o que é jogar bem?".
Olhem, portanto, para Daniel Bragança e Vitinha, baixinhos à luz do musculado futebol moderno, e encontram a melhor solução para essa dúvida, porque é a que junta o triângulo da vida dum jogador: bola, visão, passe. O jogo continua a ser dos médios.
2 - No meio-campo de Sporting e FC Porto, em sistemas diferentes (3x4x3 e 4x4x2) mas ambos no centro do terreno numa linha de apenas dois médios (atrás deles os trincos-pivôs guarda-costas Palhinha e Uribe), pegaram na bola e no jogo (importante frisar que eram mesmo as duas coisas ao mesmo tempo) e traçaram as coordenadas do coletivo com a sua leitura dos melhores espaços para por onde entrar ofensivamente. O que se começa a construir desde trás não é a equipa, é o jogo.
3 - Claro que não demorou a surgirem as teses de que tudo isso é muito bonito mas que para serem mesmo verdadeiramente bons jogadores também têm de defender, recuar, correr sem bola (atrás dela e do adversário) e outras tarefas que qualquer outro dos comuns jogadores mortais sabe fazer. Não digo, evidentemente, que participar em todos os momentos do jogo não seja importante (é decisivo até) mas há que definir prioridades e não correr o risco de as confundir.
Este tipo de jogadores existe (vive e joga) para marcar a diferença noutro momento. O da posse, da transição e construção organizada ofensiva. Com a bola. Porque o jogo, para estes jogadores (e para as equipas grandes que o têm), começa a pensar-se com bola.
4 - Poderá ser para qualquer treinador um grande triunfo transformar um destes criativos num "soldado tático" mas não me peçam para (eu ou o futebol) lhes agradecer a seguir. Tudo o que dizem que eles precisam terá de ser sempre um complemento.
Nunca algo que condicione as suas capacidades de resposta em campo do que é "jogar bem" O mito da dimensão física é, como dizem aqueles dois exemplares de "roda-baixa", facilmente desmontável na altura em que após ganhar-se com inteligência os melhores espaços (os vazios ou sair tecnicamente em posse da marcação nos mais curtos) percebe-se que quando a bola está no chão, na relva, todos temos o mesmo tamanho. E são os pés (comandados pelo cérebro) que jogam.
A velocidade mais lenta
O tempo passa para todos. Talvez assim se entenda a pouca utilização de Pizzi esta época no Benfica quando a equipa precisa dum jogador com as suas características. O jogo com o Portimonense foi um bom exemplo. O corredor central estava bloqueado, Rafa tivera que fugir para a faixa e João Mário não tem a "agressividade tática" para furar com a sua técnica curtinha no espaço mais militarizado de pressão do adversário, fechado em bloco baixo.
Parece evidente que nenhum jogador vai a partir do meio-campo passear no campeonato. Todas as equipas têm afinado o seu radar de fechar espaços (muito mais do que o GPS para os abrir) porque sabem que só assim podem discutir o resultado (discutir o jogo é outra coisa) contra os grandes.
A corte dos "jogadores intensos" choca, assim, quando quer construir, contra as suas limitações além-atitude (tática ou física).
A anarquia de Taarabt não tem afinação pensada nos momentos mais difíceis deste tipo de jogos em que velocidade não é resolver as coisas o mais depressa possível (mas antes pensar bem, e executar, mais rápido que os outros). Por isso, a estranha sensação de que, com ele, o jogo fica mais ansioso e cheio de dúvidas quando a bola está nos seus pés.
O futebol não precisa ser tão rápido (de pernas). E assim, acabo voltando a pensar em Pizzi.