A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
Corpo do artigo
1 - Lucas Veríssimo, João Mário, Rafa, Darwin - o estádio da Luz mais parecia o banco de uma qualquer urgência em hora de ponta hospitalar.
Talvez esta paragem para as seleções não venha em má altura para se recuperarem três daqueles jogadores - desafortunadamente, Lucas Veríssimo estará fora por um longuíssimo período de tempo.
Pena Jorge Jesus ter dado ao gesto de "tem calma" do central brasileiro a importância que ele merecia - nenhuma; se tivesse sido persuadido pelos moralistas de serviço ao anti benfiquismo, tê-lo-ia castigado e involuntariamente poupado ao calvário que tem pela frente nos próximos dez meses.
E a falta que ele nos fará... (Vejo o mau gosto da publicação de uma enorme foto de Lucas Veríssimo com o joelho todo torcido na capa de um diário desportivo e lembro-me de prestar - e faço-o sempre que posso - homenagem ao enorme realizador Ricardo Espírito Santo, que há uns anos, em Guimarães, teve a lucidez e a decência de nos omitir as hediondas imagens frontais da síncope final de Miklós Fehér.)
2 - Precisámos de quase ano e meio para vermos em Lisboa o Everton de Porto Alegre - aquele que deixa os adversários com os rins partidos, que não abdica de meter fulgurantes acelerações no jogo, que assiste os colegas em bandejas açucaradas, que marca ele próprio golos de ver e chorar por mais. Beneficiou, como todos, do suicídio tático de Carlos Carvalhal, mas não precisou de ser poupado em Munique para ser o melhor contra o Braga - bastaram-lhe os dois dias de descanso a mais que os minhotos. Que esta monumental exibição tenha desinibido de vez o (até aqui) cabisbaixo "cebolinha". Bem precisamos dele assim, sempre assim, para os dificílimos embates que aí vêm.
3 - Acolhido em Nou Camp com mais carinho do que o que é dispensado a um filho pródigo, Xavi, mesmo que agora fora das quatro linhas, será quem mais influenciará o nosso destino próximo na Europa. Pode não ter tempo para dar a volta à tática, pode até não ter engenho para meter os craques física e tecnicamente no ponto em duas semanas, mas é certinho que vai, do ponto de vista mental, virar aquele grupo do avesso. A fasquia da exigência, já de si muito alta para a noite de 23 de novembro, acabou de subir ao patamar máximo.
4 - Onze jornadas cumpridas na Liga (um terço da prova) e vale a pena fazer o balanço possível: contra os mesmos adversários e nos mesmos campos (substituindo os que desceram pelos que subiram), temos agora mais seis pontos do que na época passada. Precisamos somar mais 13 do que em 2020/21 para atingir a média dos campeões das últimas dez épocas: 85. Todavia, numa liga assim tão renhidamente disputada, poderão não ser suficientes - provavelmente, o campeão ver-se-á obrigado a chegar aos 88 (ou até mais) pontos. Neste quadro, os jogos entre os grandes serão mais decisivos que nunca - o Benfica ainda terá pela frente o Sporting (Luz, 3 de dezembro) e o FC Porto (Dragão, 28 de dezembro) até final da primeira volta.
5 - Com irresponsável atraso e prejuízos irrecuperáveis, foi por fim passada a certidão de óbito ao cartão do adepto. São Francisco de Assis, se ainda por cá andasse, diria: "Está morto, podemos elogiá-lo à vontade." Acontece que o maldito do cartão não tem por onde se pegue para lhe dedicarmos um hipócrita elogio fúnebre. Que descanse, então, em paz - e para sempre!