A dois pontos condicionais da liderança, segue-se o Inter de Milão. Palavra aos Campeões. Alguns regressos e memórias alimentam sonhos em San Siro.
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As primeiras palavras para a despedida. Quis o destino que FC Porto e Rio Ave se encontrassem no dia seguinte a Christian Atsu ser encontrado, sem vida, nos escombros da derrocada do prédio onde vivia na província turca de Hatay. A calamidade bateu à porta de milhares de habitantes na Turquia e na Síria, há duas semanas, com sismos que somaram mais de 40 mil mortos a centenas de milhares de enlutados e a mais de 13 milhões de desalojados.
À medida que os dias se atropelam em mágoa, desvanecem-se as probabilidades de encontrar vida para além da anunciada morte. Foi ao elogio da vida que os dois clubes se entregaram antes do apito inicial, uma homenagem rendida ao Homem e avançado ganês que se distinguiu nos dois clubes, 27 e 20 números das camisolas, onde jogou aquando da vida em Portugal. Atsu tinha bilhete para voar para França mas, na véspera do sismo, entrou em jogo aos 82 minutos para marcar o golo da vitória aos 97. Essa felicidade amarrou-o à Turquia pela esperança de mais minutos de jogo. Aos 31 anos, não houve muito mais tempo.
Memória. Uma das melhores rendições é feita por Danilo, agora na Juventus, que com ele partilhou o balneário azul e branco. Lembrou os jantares em Espinho, nas concentrações antes dos jogos, onde todos viam como Atsu comia a carne e o osso do frango. Perante a estupefacção e as "bocas" dos colegas, o ganês acabou por explicar, com leveza, que tinha o hábito de comer o osso porque na infância aprendera a não desperdiçar nada do que havia para comer, já que não sabia quando e qual seria a próxima refeição. O espírito de sorriso largo não vai mais largar FC Porto e Rio Ave, sendo sempre lembrança para lutar por mais e para melhor. Uma inspiração, dura.
Não foi extremamente inspirada, porém, a noite no Dragão. Repleto de ausências e recheado de lacunas, o FC Porto foi a face visível de um meio campo sem Uribe e Otávio, um ataque sem Galeno e Evanilson e um grande Diogo Costa. A contar 8 ausências entre alguma sorte e muitos sustos. Felizmente, havia Eustáquio. Assim como Toni Martínez num momento de eficácia. Longe do descalabro da 1ª volta em que a equipa desapareceu nos Arcos, a falta de rotinas na alimentação do jogo ofensivo acabou por criar dificuldades acrescidas no equilíbrio a meio campo e no sector defensivo, sobretudo nos últimos minutos. A felicidade também existe nos falhanços dos outros, com o "dragão" a suspirar de alívio nos derradeiros instantes, pelo excesso de voluntarismo da cabeçada de Boateng. A dois pontos condicionais da liderança, segue-se o Inter de Milão. Palavra aos Campeões. Alguns regressos e memórias alimentam sonhos em San Siro.