PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Opinião de José João Torrinha
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1 - Foi há pouco mais de dois meses que aqui escrevi sobre a credibilidade (ou falta dela) da justiça desportiva em Portugal. O pretexto foi uma decisão condenando o Vitória por supostos insultos racistas que só o queixoso ouviu e mais ninguém.
Nessa altura, bastou que o próprio dissesse que ouviu e toca de condenar o clube. Qual presunção de inocência, qual ausência de outros meios probatórios concludentes, qual quê. Se disse, está dito e ponto final.
Com esta decisão ainda fresca na memória, quem ler aqueloutra que esta semana foi conhecida acerca dos gestos praticados por Al-Musrati em direção às bancadas do D. Afonso Henriques, deve pensar que em dois meses mudámos de país. É que agora, ainda que exista uma imagem em que o gesto é claro e ainda que o diretor de campo o afirme ter presenciado, isso não bastou para haver castigo.
Parece incrível, mas é verdade. Tendo o jogador optado por nada esclarecer ou sequer negar, remetendo-se ao silêncio, quem julgou o caso entendeu que as imagens até podiam ter sido manipuladas, pois que não eram "oficiais" e quanto ao diretor de campo, a verdade é que o mesmo não participou os factos às demais entidades presentes, pelo que... nada. O que todos vimos, afinal não vimos e siga a marinha.
Recorde-se que a mesma instância tinha, nesta mesma época, condenado o jogador Maga por gesto idêntico, o qual terá sido captado em imagens alegadamente também não "oficiais".
No texto anterior sobre o tema comecei por escrever: "Certa ou errada, justa ou injusta, existe uma desconfiança generalizada de que a justiça desportiva é apenas um arremedo disso mesmo: de justiça". Ora, são estas mesmas decisões de sentido contrário que reforçam esta mesma desconfiança. Não é possível que uma se esqueça de que existe presunção de inocência e que outra ao lado pegue nessa mesma presunção e use e abuse dela para contrariar o que todos vimos.
Com franqueza, desconheço o que se possa fazer para que isto não suceda. Mas uma coisa sei: enquanto formos assistindo a isto, ninguém vai confiar na justiça desportiva nacional. Ninguém.
2 - Últimas mas merecidas palavras para dar os mais sinceros parabéns aos tetracampeões de polo aquático. Um projeto que começou por ser sonho de uns poucos e que hoje é o orgulho da nação vitoriana. Que o seu exemplo prospere e inspire todos aqueles que têm o privilégio de vestir de branco.