VISTO DO SOFÁ - Opinião de Álvaro Magalhães
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Quem não quer ser campeão na época em que só o primeiro beneficia desse acréscimo de vida que a Champions concede? Para qualquer um dos três grandes, ganhar ou perder o próximo campeonato pode ser a diferença entre a vida e a não-vida.
Este Benfica só está preparado para vencer. Tolhidos pelo medo de não ganhar, o que comprometeria a caminhada em curso para a antiga grandeza desportiva, os seus dirigentes compram tudo o que mexe. Podem ser jovens imberbes, como Tengstedt, Schjelderup e agora Prestianni, jogadores feitos, como Jurásek e Kokçu ou mesmo pré-reformados como Di María, que é um jogador-jóia, mais para ostentar do que para jogar. Com o Feyenoord, perdeu a bola treze vezes e não fez um único remate.
João Félix, que não é um substituto natural de Ramos, esse ainda terá de ser encontrado, é o outro nome dessa ganância, pois, se vier, custará um fortuna em salários e só acrescentará cacofonia. O que resultará desta miscelânea? Só vendo, o que até pode começar já na quarta-feira.
A euforia desmedida dos adeptos, que fervem em pouco lume, é que ninguém segura. Disse, há pouco, Ricardo Araújo Pereira que queria ser campeão logo em Janeiro. Ou seja, já não lhes chega ganhar, querem massacre, carnificina. Vá lá, que vieram aquelas duas derrotas seguidas, com Burnley e Feyenoord. Foi o melhor que lhes podia acontecer. Não perderam nada e ganharam juízo.
No FC Porto, faz-se das tripas coração, dada a penúria financeira. Taremi deve sair depois da Supertaça, que alguém tem de ser vendido, mas já foi substituído por Navarro. Nico Gonzalez e Alan Varela atenuarão a mediocridade do meio-campo, mas está visto que o problema dos defesas laterais continuará a ser um problema. O que seria da equipa sem esse problema, não é? O grande feito foi a permanência de Otávio, que é o que resta da velha classe, e de Sérgio Conceição, a quem se atribuem vários milagres. Talvez tenha de fazer mais um se quiser evitar a agonia que é a perda de um título, como Vítor Bruno confessou agora ter sentido no último jogo da época passada.
E o Sporting? Pelo que se viu no defeso, estão prontos para o regresso à vida verdadeira, depois da recaída da época passada. A equipa perdeu Ugarte, mas vem aí um Hjulmand, que não é inferior, e já cá está o avançado que faltava, um tal Gyokeres. Ambos são reforços-surpresa, que resultam da superior qualidade dos olheiros do clube e que é uma espécie de aristocracia do olhar. Digo-vos: eles vêem coisas que mais ninguém vê. Pote, Ugarte, Matheus Reis, Marcus Edwards, Nuno Santos são a prova viva disso.
Mas como esta equipa é capaz de oscilar entre um primeiro e um quarto lugar, falta saber que género de época será a próxima. «Que seja o nosso ano», escreveu Pote no Instagram. Mas isso é o que todos querem, não é?
Um ano da Águia, do Dragão ou do Leão? Eis a envolvente e abrasadora questão que aí vem. Tanto que ver, sentir, discutir. Torrentes de paixão, de vida anímica, irracional. É muito mais do que uma Supertaça e do que um campeonato, é uma outra vida que se ergue quando a bola rolar, na quarta-feira, em Aveiro.