APITADELAS - Um artigo de opinião de Jorge Coroado.
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Décadas atrás, o motivo pelo qual se era árbitro, embora podendo conter pequenas variações, tinha um ponto em comum: gosto pelo futebol!
Depois, outras motivações podiam ocorrer, tais como satisfação em participar no mais belo espetáculo do mundo, presunção de bem fazer, possibilidade de conhecer novos locais, gentes e culturas.
Com o evoluir na carreira, até mesmo a nível distrital, advinha a satisfação pelo facto de os fins-de-semana não serem sempre iguais; saber que se percorriam caminhos diferentes, que não se pisavam os mesmos lugares, não se comia nos mesmos sítios, se conheciam pessoas e personalidades distintas.
Tais sentimentos poderiam considerar-se fruto de cegueira provocada por amor platónico à causa ou talvez questão de temperamento. Não importava! A alegria pela realização pessoal de um objetivo em versão natural de carolice monástica suplantava tudo. Não obstante, quase todos que enveredavam pela atividade rapidamente ficavam a saber que, pela ação e ganância de uns quantos (poucos) algo transformaria tal sentir.
O anseio por riqueza fácil ou suplantação de pares, daqueles poucos que, com mais olhos que barriga, perante a bem desigual compensação percebida comparativamente aos verdadeiros fazedores do espetáculo - jogadores -, classe dita de bolsos cheios, embora a realidade, em inúmeras situações fosse, ainda é, notória quimera, promoveu mudanças fomentadoras não de sentimento de agrado e satisfação, sim de necessidade e clara dependência materialista castradora de autonomia e alegria no desempenho da atividade. Quem sonhou o profissionalismo na arbitragem, olvidou as contrapartidas, sobretudo a perda de um bem inalienável: Liberdade.
Autonomia
Das limitações mais percecionadas na atual geração de árbitros sobressaem, sobretudo, a incoerência e ausência de critério tanto na vertente técnica como disciplinar. A inconsistência e flutuação de procedimentos e decisões revelados de jogo para jogo são confrangedores, deixando percecionar sentimento de "deixa andar, logo se vê". A adoção da ferramenta VAR contribuiu para menor exigência de concentração porquanto o respaldo no apoio de outrem, sobre quem passaram a recair olhares mais críticos, aligeirou sobremaneira a incompreensão sobre muitas decisões "in loco". Hoje, os árbitros demitiram-se do mais belo da arbitragem: autonomia e assunção de decisão.
Percebo
Ao longo de carreira preenchida, perante incompreensões e comportamentos desrespeitosos, não poucas foram as vezes que aos lábios afloraram palavras duras, expressões de indignação, imprecações, porém, o respeito pela atividade, a interiorização de princípio subliminar de defesa de toda uma classe, impunha contenção. Havendo necessidade de lucidez, rapidamente se percebia que, embora o que se sentia fosse muito além da cólera, de que serviria uma discussão? Na verdade, reagir seria primário, irresponsável, descer ao nível de quem não sabe respeitar o próximo. Apesar disso, percebo e não censuro Paulo Sérgio, treinador do Portimonense.