PASSE DE LETRA - Opinião de Miguel Pedro
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1 - Soares Dias é um bom árbitro. Um dos melhores na atualidade em Portugal, seguramente. Bem preparado fisicamente, com competência técnica nos julgamentos dos lances de jogo, exercendo a autoridade sem autoritarismos. Por isso, consegue o respeito dos participantes no jogo, desde jogadores a treinadores.
No entanto, para nosso azar, não gosta lá muito do SC Braga. Não é nada pessoal, nem sequer conspirativo. É um pouco como eu e a lampreia: também não gosto nada de lampreia, por muito bem cozinhada que seja. Há pessoas que fazem centenas de quilómetros para comer lampreia; eu, por outro lado, nem sequer atravessaria a rua para degustar tal iguaria. Mas não tenho nada contra quem come lampreia e muito dos meus melhores amigos adoram saborear essa espécie de peixe-réptil.
Ora, a lampreia está para mim como o SC Braga está para o Soares Dias. É algo que não se explica muito bem. Até gostaria de apreciar lampreia, mas não gosto nada. Estou certo de que o Soares Dias também gostaria de apreciar o SC Braga, mas não consegue.
Por isso, não me estranhou a curiosa arbitragem de Soares Dias no jogo contra o Vizela. O Braga até venceu, e bem. Sem espinhas. Mas deu nas vistas a decisão ansiosa do árbitro, ao assinalar, aos 36´e ainda com 0-0 no resultado, uma grande penalidade contra o SC Braga que, afinal, teve que anular (a muito contragosto), após 6 minutos para confirmar um fora-de-jogo que qualquer espectador presente no estádio (incluindo o seu fiscal de linha) poderia confirmar. Ou a repentina e provisória cegueira do árbitro ao não assinalar uma penalidade a favor do Braga, na ostensiva e violenta cotovelada de Ivanilson a Abel Ruiz na área vizelense, aos 57". E muitos outros pormenores de arbitragem que o resultado do jogo acabou por secundarizar. Percebo bem o Soares Dias: obrigá-lo a arbitrar jogos do Braga é como me obrigarem a comer lampreia. Não se faz...
2 - Hoje é dia de jogo grande. Há uma diferença enorme entre um Braga-Porto de hoje e de há 30 ou 20 anos: hoje jogamos para ganhar, enquanto naqueles tempos a vitória era uma exceção, uma espécie de milagre. Ninguém - nem mesmo o mais ferrenho portista - considerará que o jogo de hoje são "favas contadas", que era o sentimento que prevalecia nos finais do século passado, nestes jogos. Atualmente, e em qualquer estádio do país, um dia em que o Braga jogue é sempre um dia de jogo grande. Somos sempre favoritos.