Jogo com o FC Porto foi o exemplo perfeito dum Braga de expectativa e estratégia
PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - A equipa parecia que partilhava taticamente uma acusação que assumira pela reformulação de objetivos da época. Sem os mesmo argumentos de valor como já teve, este Braga teve de aprender, com o passar dos jogos, como poderia verdadeiramente defrontar os grandes. Aprendeu o que não podia fazer (uma constante pressão alta, com defesa subida) e que o devia fazer estrategicamente (baixar um pouco o bloco, definir bem organização defensiva).
Por isso, perdeu com Sporting, Benfica e FC Porto na primeira volta, e, no inverso da sensibilidade tática interior, ganhou aos mesmos três grandes na segunda volta. Carvalhal soube, friamente, ver como se as armas mudam, a forma de as usar também têm de mudar.
O jogo com o FC Porto foi o exemplo perfeito desse Braga de expectativa e estratégia, jogando com os três centrais mas defendendo numa linha de quatro (em 4x4x2), para depois buscar o ataque na profundidade da defesa portista, naturalmente subida, como equipa grande. Marcou assim o golo que derrotou o exército de Conceição 58 jogos depois. A seguir, percebeu como tinha de defender mais compacto (o FC Porto passara para 4x4x2 com dois pontas-de-lança e extremos puros), montando então uma linha de cinco (5x4x1 a defender) para segurar o tesouro do golo nº 100 de Horta.
2 - A mutação do losango inicial, que assumiu a posse de bola, não conseguiu descobrir as melhores zonas de penetração nas duas linhas de quatro (meio-campo/defesa) bracarense.
Um jogador no centro do debate: Pepê. Tem crescido muito em fundamentos de jogo, mas a partir da faixa como ala do ataque. Jogando a lateral-direito (como asa do losango) ou como avançado móvel na dupla central (como fez, no lugar de Evanilson, no arranque da segunda parte) ainda é um jogador taticamente curto no plano da perceção certa de como e quando invadir espaços. A finalização das jogadas elaboradas atrás ou antes da bola chegar a ele ressentiu-se disso. A equipa, no conjunto, mostrou-se muitas vezes desajustada em relação ao ritmo certo de circulação de bola que o jogo pedia para fazer dançar o sempre compacto (e bem alinhado) processo defensivo do Braga.
3 - O Boavista que defrontou o Sporting estava esvaziado do seu melhor futebol (de Sauer, vendido, a Musa, suspenso). Não foi, por isso, a mesma equipa que soube, nos anteriores grandes jogos, subir os níveis de competitividade. A depressão que ameaçava o onze de Amorim encontrou um território de descompressão. Deu, até, espaço para o futebol de Matheus Nunes reaparecer. Serena, a equipa jogou sem nº 9 mas teve presença finalizadora. Não reabriu o campeonato, mas empurrou umas jornadas para a frente o seu ponto final.
Vizela: a criatura e o criador
O seu 4x3x3 criou raízes com diferentes linhas bem definidas para, em jogo posicional (linhas de passe em apoios progressivos), sair a atacar de trás para a frente. Sá sempre vontade de ver a equipa pela forma como quer sempre atacar, sem medo do jogo, mas é perturbante (para o seu treinador e para os adeptos) sentir a incapacidade de, sobretudo na parte final, em saber gerir mais o jogo, baixando ritmo e controlando em posse. Continua a manter ritmo alto, deixa jogo partir-se e acaba a sofrer com isso (isto é, tanto com o adversário como consigo própria).
É o que sinto vendo os últimos 15 minutos, pelo menos, dos jogos em que o Vizela está a ganhar. Não é um problema de agora (onde seria natural nervosismo a precisar de pontos), mas sim de toda a época. O quase decisivo jogo com o Arouca voltou a esse registo. Álvaro Pacheco bem grita com os jogadores e faz substituições (metendo Rashid e Guzzo, buscando segurar melhor a bola) para, nesse sentido, meter algum gelo no jogo, sobretudo a meio-campo, mas a forma como esta equipa nasceu e cresceu impede-lhe de mudar o chip da identidade (sem a qual, admito, não cativaria tanto nem começaria a ganhar).
O estranho da criatura (a equipa) ultrapassar o seu criador (o treinador), empolgando ou sofrendo com isso.
MODELOS
Tagawa Nº 9 total
O Santa Clara voltou a descobrir um japonês que joga muito. Kyosuke Tagawa chegou do Tokyo FC já com créditos de goleador e prova, com inteligência de movimentos e poder de desmarcação, que sabe mover-se com um nº 9 moderno, de referência ou de mobilidade. Robusto (1,85m), aguenta o choque, fura nos espaços vazios muito rápido e finaliza com técnica, usando a precisão do seu pé esquerdo. Aos 23 anos, internacional nos escalões jovens nipónicos, é nº 9 para níveis mais altos.
Portimonense Realismo
O Portimonense voltou ao registo habitual e ganhou o jogo da manutenção ao Moreirense. Paulo Sérgio meteu rigidez no 4x3x3 e, com Jocú a confirmar-se como um nº 6 de futuro, soube gerir os diferentes momentos do jogo. A forma como moveu Wellinton entre a faixa e o centro cruzou-se como, na segunda parte, para segurar cobertura em largura, meteu Da Costa na esquerda (tirando Fabrício da frente). Treinando uma equipa que tem o mercado aberto todo o ano, Paulo Sérgio buscou as profundezas do futebol mais realista para travar a perturbante queda sentida na segunda volta (consequência, talvez, mais dessa política do clube do que da equipa).
Oliveirense Sistema Pisco
A primeira subida da época com um bom meio-campo onde, entre o forte trinco Felipe Alves e o veterano corre-caminhos Duarte Duarte, está um médio nº 8 que acho ter futebol para nível mais alto: Vítor Pisco, 25 anos. Sempre bem posicionado para receber ou cobrir, é elegante com técnica, tem passe e visão. Este é o coração do 4x3x3 da Oliveirense de Fábio Pereira que solta no ataque alas perigosos, Jaime Pinto e Lessinho, um-para-um e diagonais, servindo um nº 9 puro, João Paredes. Boa equipa rumo à Liga 2.