PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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1 - Marcou o penálti e fez um gesto de calar quem fala muito sobre ele. Após tanto tempo com o nome bagunçado nos subterrâneos deuma transferência disfuncional, basta agora um passe falhado e um olhar triste para surgir uma tese psico-futebolística sobre os efeitos de tudo isso no futebol de Ricardo Horta.
Os gestos e jogo de Horta e como Pepê pode fazer o papel de Otávio
Deduzo, daquele gesto na Suécia, mais do que uma mensagem subliminar: uma resposta para quem duvida que possa ser o mesmo depois de tudo isto, outra para os destinatários internos do negócio, que também falam muito e, a certo ponto, levaram-no a despedir-se (com mão no coração) do local donde, afinal, nunca lhe foi permitido sair. Não é fácil, naturalmente, voltar a colocar a cabeça do seu futebol totalmente no sítio, mas é ele (só ele) que continua a entrar em campo. E continua a entrar, mais triste ou sorridente, como um jogador especial.
2 - Este Braga joga com a fluidez e simplicidade que o sistema (4x4x2) e a qualidade dos jogadores autoriza. Não há nada de complexo ou escondido para perceber ou descobrir na fórmula de Artur Jorge (longe do desdobramento de sistemas com trocas posicionais da era Carvalhal). Aqui é a tática simplificada que, no fundo, é, sobretudo, a... técnica dos jogadores.
Os passes com geometria de Al Musrati, o tecnicista trincar da língua de Vitinha, os bicos de pés goleador de Banza. Tudo isto em cima de uma "horta de futebol", sociedade de irmãos n.º 8 + n.º 10, que fazem a equação do bom futebol bracarense. Vendo bem, nem acho que este dependa tanto do melhor rendimento de Ricardo Horta. É importante, mas não tão decisivo em face de como a (re)constituição da equipa já se preparara para viver/jogar sem ele. O mercado, como ameaça, reabre em Janeiro. Até lá, este Braga tem tudo para seguir no topo e solidificar todos estes elementos como candidato natural pelo que joga. Ouçam como eles respiram!
3 - A lesão do Otávio como que lesiona a ideia de jogo da equipa toda. Isto é, não se trata só de perder um jogador algumas semanas. Perde-se a melhor forma de interpretar as diferentes formas de como a equipa pode jogar (e até transformar-se em campo, da organização à criatividade). Conceição tem de voltar à oficina tática. Num primeiro olhar, vejo Pepê a assumir esse papel. Regressando ao setor ofensivo, poderá demorar uns segundos a fazer e ocupar alternadamente todos esses espaços certos (e distintas abordagens ao jogo), mas já tem fundamentos de jogo que lhe permitem fazer algo parecido. Numa fase em que está em pleno processo de amadurecimento tático de um novo n.º 8 (que, em síntese, consta de pôr o relógio-Estáquio a andar mais depressa), a equipa vai ter que se reequilibrar para manter mesmo poder de.... desequilibrar o adversário, sem ter a melhor dupla-chave desse processo.