PASSE DE LETRA - Opinião de Miguel Pedro
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Na flash-interview do final do jogo contra o Famalicão, Ricardo Horta, com um ar de profundo desalento e com dificuldades para encontrar as palavras corretas para explicar a derrota caseira do Braga (se é que existiam, na verdade...), lá atirou um ditado popular: "o que interessa não é como se começa, mas sim como se acaba".
Estes ditados populares são abstrações linguísticas e funcionam como uma espécie de chavões de auto-ajuda para o cidadão comum.
Quem não faz sete pontos à quarta ronda raramente acaba a liga no pódio
É certo que, num campeonato com muitas jornadas, interessa é a classificação final. Mas, se aplicarmos este brocardo motivacional a cada jogo em concreto, então teremos que discordar de Artur Jorge, que, na entrevista de final do jogo, considerou a derrota injusta, pelo que o que o Braga jogou nos primeiros 30 minutos. Na verdade, não interessa como se começa o jogo, mas sim como se acaba (o seu resultado final). E, neste aspeto, o Braga, versão 2023/24, tem sido exímio a começar bem os jogos, mas não tão bom a terminá-los. Mesmo no jogo europeu, contra os sérvios do Backa Topola, o ritmo alucinante e as sucessivas diatribes de criatividade dos 30 minutos iniciais não tiveram equivalência na segunda parte do jogo, tendo o Braga decaído bastante no seu jogo. E, contra o Famalicão, os nossos vizinhos minhotos, alterando a sua estratégia tática na segunda parte, foram, no período complementar, bem superiores a um Braga que nunca conseguiu perceber o que fazer para arranjar os espaços necessários para desenvolver o seu futebol. A verdade é que mereceram vencer.
Interessará, agora, perceber a razão por que é que as "segundas partes" não têm sido tão eficazes e "bem jogadas" como as "primeiras partes". E isso tem que ser feito com urgência, pois teremos um início de campeonato bem difícil, com os próximos dois jogos fora de casa e, depois, receção ao Sporting. É que o ditado "o que interessa não é como se começa, mas sim como se acaba" não tem qualquer fundamento estatístico e, se formos ver, raramente quem não atinge os sete pontos à 4ª jornada consegue ficar nos três primeiros lugares no final do campeonato. Já aconteceu, mas é raro.
Por isso, interessa começar bem para se acabar bem. Mas, como bem referiu Ricardo Horta, os jogos de futebol são assim: todos querem ganhar e, por vezes, as coisas não correm tão bem. Um jogo é só um jogo e os três pontos "perdidos" terão que ser recuperados noutras paragens. É desta matéria que se fazem os campeonatos.