A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - As continuadas práticas de tráfico humano de jovens jogadores de futebol, que o caso BSports num ápice trouxe ao conhecimento do grande público, jamais podem servir de arma de arremesso entre os dois homens que se digladiam pelo poder do futebol português: Fernando Gomes e Pedro Proença.
Mas servem, seguramente que servem, para demonstrar que nenhum deles está isento de fortes responsabilidades numa matéria tão repugnante quanto insustentável. Basta de gente que não é capaz de ver o futebol para além da conjuntural gestão dos interesses instalados.
2 - Tribunais atrás de tribunais, instâncias atrás de instâncias, há muito que não tem nada que saber: houve crime no roubo, na manipulação e na exibição dos emails do Benfica. Continuamos à espera - vá que sentados... - para saber o que têm a dizer sobre esta comprovada vergonha a FPF, a menos que queira legitimar os comportamentos do infrator, e a Liga, porque o que um clube fez a um seu concorrente não pode passar ao lado de quem tutela a principal competição entre eles.
3 - De entre as ligas dos dez países mais bem posicionados no ranking da UEFA, Portugal tem a mais alta média de faltas por jogo e os Países Baixos a mais baixa. Só uma cultura de futebol positivo - e não a centralização de direitos - pode garantir competitividade internacional às equipas da classe média do futebol português, as que nos fazem perder lugares por contribuírem com poucos ou nenhuns pontos para o ranking. A irresponsabilidade de quem dirige o nosso futebol é gritante e assustadora: em 2017/18, os Países Baixos ocupavam a posição 14 do ranking, cinco anos depois passaram-nos a perna - e eles não deram por nada?
4 - Não concordo com a justificação apresentada por Rui Costa para o apoio dado à reeleição de Pedro Proença. O Benfica é o único clube que, pela sua dimensão e pela sua história, pode - e deve! - ir, se necessário sozinho, contra a corrente. Compreendo que o presidente tenha outras prioridades - há difíceis e urgentes decisões a tomar no clube -, mas o maior de Portugal não pode ir atrás dos outros, antes tem de promover e patrocinar as profundas mudanças de que o futebol português tanto carece.
5 - O homem que foi escolhido para o onze ideal da Champions e ocupou um lugar cimeiro entre os melhores marcadores da prova foi o mesmo que sofreu uma das maiores desconsiderações - o termo certo até é humilhações - a que um selecionador pode sujeitar um jogador consagrado: fazê-lo entrar a um minuto do fim de um jogo mais do que resolvido, contra uma seleção de quinta categoria, no estádio do seu antigo clube, com isso sujeitando-o ao inútil, mas inevitável, coro de assobios dos seus enraivecidos ex-admiradores. Como não haveria João Mário de mandar a Seleção "à fava"?