PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Os estilos opostos no impacto da imagem de Álvaro Pacheco e de Ricardo Soares. O 4x3x3 que nasceu da dinâmica atacante e o 4x3x3 que começou na organização defensiva. Não existirá formula certa para encontrar a melhor forma de jogar mas acredito que, para incutir na equipa as raízes dum jogo mais equilibrado, a segunda ordem será a mais aconselhável. Porque, mais do que a equipa, é o jogo que se começa a construir desde trás.
São estes dois treinadores e suas equipas, Vizela e Gil Vicente que, lutando pela fuga à descida ou pela Europa, surgem no caminho dos dois candidatos ao titulo, FC Porto e Sporting, nesta jornada.
2 É impossível ficar indiferente à forma como Álvaro Pacheco vive o jogo de pé, junto ao banco do Vizela. Já vi de tudo. Desde o treinador de boné a pensar taticamente, até a alguém enlouquecido, a festejar um golo ou a ameaçar um jogador de murro por não aliviar bem uma bola.
Pacheco vive o jogo com o coração nas mãos e a sua equipa também. Já escrevi que a criatura (a equipa) por vezes ultrapassa o criador (o treinador) mas, nesta fase final, em que se pensava que iria ao Dragão para um jogo de festa, afinal vai para um jogo ainda a valer muito (depois da derrota portista em Braga).
Enfrentar uma equipa destas que, tantas vezes, parece achar valer mais do que verdadeiramente pode fazer em campo (pela forma como, em função das suas origens de criação ofensivas criadoras, não saber defender por principio) pode levar a tendência para um "jogo partido" que, a cada contra-ataque, desperte os alarmes de ansiedade portista.
Dirão que não existem razões (pontuais ou de valor) para este FC Porto sentir essa pressão. Talvez, mas se pensasse numa equipa capaz de lançar um jogo no caos mais imprevisível é este Vizela. Tanto diverte como assusta (adeptos e adversários). Joga como num pátio de recreio de escola.
3 Ricardo Soares é um bom treinador, feito a pulso na antítese do jogo de imagens que, num mundo mediático, vale, tantas vezes, mais do que a competências. O seu Gil diluiu-se quando chegara à porta do quarto lugar. Muitos dos melhores jogadores (de Pedrinho a Fujimoto) resvalaram num sub-rendimento intrigante mas a rede de segurança tática que a equipa tinha impediu-a de cair além de alguns empates. Por isso, pode surgir em Alvalade apelando às suas fundações de organização defensiva e, assim, ser competitiva, mesmo já sem seduzir pelo melhor futebol que jogou com bola a atacar.
A luta pelo titulo pode, assim, confrontar-se com diferentes dificuldades numa jornada "fora da caixa das previsibilidades". O campeonato que já devia estar decidido, vai ter como protagonistas a equipa que empolga pelo caos e a que convence pelo equilíbrio. Qual é a mais perigosa numa fase destas?
Olhando os ninhos de craques
A superioridade moral que se ganha quando se fala em aposta na formação tende mais a confundir essa eventual importância que se lhe está a dar do que verdadeiramente a respeitar no sentido de dar os passos certos em relação a essas promessas de craques no percurso na passagem entre o futebol jovem sonhador e o adulto insensível.
Cada jogador tem um mundo participar que deve ser analisado. Não é uma geração global a ser transplantada diretamente para o nível duma primeira equipa com exigências máximas seniores.
Penso nisso vendo o belo onze do Benfica sub-20 que venceu a Youth League. Adoro o pegar no jogo e atacar de Martim Neto como gosto das diabruras e fintas de Moreira, mas acho (como em outras castas semelhantes) que cada um tem um habitat de crescimento diferente.
Não se trata de quem está mais evoluído nesse crescimento, mas sim nos traços de jogador e fundamentos de jogo que, em função das posições/estilos em que jogam, se lhe exigem. Lançá-los numa primeira equipa depende de ter (ou não) essa sensibilidade. O Benfica quer muito vê-los crescer depressa. A melhor forma para isso suceder será, porém, respeitando a maturação da formação. Um, seguro, já na primeira equipa (mesmo treinando mais do que jogando), outro rodando num clube onde possa jogar.