PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro.
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Existem muitas durações para um ciclo. O ciclo das rochas, por exemplo, que envolve os processos de transformação das rochas, demora milhões de anos. O ciclo circadiano, que regula o nosso sono, ocorre em poucas horas ao longo de cada dia. E o ciclo cardíaco, de contração e relaxamento do coração, demora menos de um segundo. Já o ciclo dos treinadores...bem, esse tem uma duração totalmente instável e imprevisível.
Dirigentes e adeptos usam amiúde a expressão "fim de ciclo" para justificar entradas e saídas de treinadores de forma mais ou menos constantes.
Mas tenho para mim que só poderemos falar de um ciclo, no que respeita a treinadores, quando a sua presença nos comandos de uma equipa for suficientemente duradoura, de tal forma que a saída representa uma mudança radical e estrutural na própria dinâmica do clube como um todo. Podemos falar de um fim de ciclo de Alex Ferguson, no final dos seus 26 anos a treinar o United; ou do fim do ciclo de Wenger, no final dos seus 21 anos à frente do Arsenal. Vem isto a propósito da entrevista de Carvalhal a um jornal turco, que foi interpretada, por muitos, como a antecipação da sua saída do SC Braga no final da época. Se tal acontecer, com muita pena minha, nunca poderemos falar de um fim de um ciclo de Carvalhal (como não houve ciclo de Paulo Fonseca, ou de Domingos Paciência, etc...).
Foram duas épocas muito boas, mas isso não faz um ciclo, porque lhe falta o elemento estrutural. Se quisermos verdadeiramente criar um ciclo de aposta na formação, de forma estruturada e duradoura, como Carvalhal apostou, com maior ênfase nesta época, então teremos que dar tempo ao tempo, e tentar criar um verdadeiro "ciclo" com um treinador que até é também um adepto do SC Braga e foi atleta da formação do clube. Mas, como Carvalhal refere, interessa, para já, cumprir o contrato até ao final e, depois, avaliar a sua execução. Esta época ainda está totalmente em aberto, no que respeita a grandes feitos. Depois, será de pensar se queremos (entenda-se, clube e treinador) ou não dar início a um verdadeiro ciclo. Cada coisa a seu tempo.