A JOGAR FORA - Uma opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Há qualquer coisa de errado quando Sérgio Conceição, que afirmou que "hoje fomos roubados", leva os mesmos quinze dias de castigo que Jorge Jesus, que disse que "há pormenores que ninguém vê, mas nós sentimos para onde está a balança".
Sérgio Conceição, para além de reincidente, é inconsequente.
Mais a mais, Sérgio Conceição, para além de reincidente, é inconsequente: não muito tempo depois de ter dirigido graves insultos a Artur Soares Dias - "não tens caráter" e "não tens personalidade" - estava a considerá-lo o "melhor árbitro português" e a reclamar da sua não nomeação para um importante FC Porto-Sporting (após a sua equipa não ter conseguido vencer o jogo, claro). No meio de todas estas contradições, salva-se a cristalina determinação do Tribunal Central Administrativo do Sul, que, em relação às palavras do técnico portista em causa neste processo, julgou, entre muitas outras coisas, que ele procurou fazer "pressão inadmissível sobre a arbitragem e seus agentes".
2 - Há qualquer coisa de errado quando um jogador - no caso, Everton - é mais assobiado na sua (nossa) casa do que qualquer jogador adversário. Julgam os muitos que o assobiam que o insuficiente rendimento de um craque que era regularmente convocado para a seleção brasileira é única responsabilidade sua? Que ele faz de propósito para tão raramente jogar ao seu nível? Que é debaixo de monumentais coros de assobios que o jogador vai, finalmente, mostrar o seu futebol de eleição? Que o grupo vai a algum lado com este tipo de pressão sobre um dos seus? Desenganem-se, amigos: a expressão "tiro nos pés" não é aqui uma simples figura de retórica.
3 - Há qualquer coisa de errado quando, a crer em vários comentadores de excelência da nossa praça futebolística, o Ajax passa de uma máquina de futebol ofensivo (marcou nos 90 minutos de Alvalade tantos golos quantos os que o Sporting sofreu nos 1.260 na nossa Liga) para um onze carregado de pontos fracos. Para tanto bastou a UEFA ter dado a barracada que fez com que o campeão neerlandês substituísse o Real Madrid na rota europeia do Benfica.
4 - Há qualquer coisa de errado quando vemos jovens jogadores a afirmarem-se ao mais alto nível em todas as equipas menos na nossa. E vejam só: passámos em primeiro lugar a fase de grupos da Youth League (prova em que fomos três vezes à final nas sete edições já disputadas); lideramos, e lideramos bem isolados, a II Liga (o FC Porto B, 11.º classificado, está a 14 pontos); temos os sub-23 na frente da Zona Sul da Liga Revelação (o Sporting, 4.º classificado, está a 12 pontos); e os juniores comandam, também isolados, com mais seis pontos do que o Sporting, a Zona Sul do respetivo campeonato. Chega?
5 - Nisto é que não há mesmo nada de errado (ainda a propósito do sucesso da nossa formação): sabia que a quase centena de jogadores residentes no Benfica Campus teve no passado ano letivo um aproveitamento escolar de 100 por cento, isto é, nem uma "raposa" para amostra? Que existem na academia encarnada várias formas de premiar os jovens que mais sobressaem nas carteiras dos liceus? Que onze deles deram este ano o notável salto do ensino secundário para os bancos da universidade? A capacidade de formar homens para além de jogadores deve constituir inigualável motivo de orgulho para qualquer benfiquista.