A JOGAR FORA - Um artigo de opinião de Jaime Cancella de Abreu.
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"Eu sei que se duas andorinhas não fazem a primavera, muito menos duas vitórias fazem a época"
1 Os dois primeiros jogos oficiais não fizeram mais do que confirmar a pré-época - logo, não validaram as opiniões das aves agoirentas que achavam que jogávamos com aquela intensidade toda devido ao baixo nível dos nossos adversários, escolhidos a dedo, ou à mudança completa do onze ao intervalo - nos jogos a sério é que se ia ver.
Goleado o fraco Midtjylland, não mais do que uma obrigação, portanto, seria contra uma equipa dirigida por um sagaz técnico português que o mais do que previsível modelo de Schmidt iria por fim ser posto à prova.
Resultado? Quatro a zero. Posso imaginar o que passa neste momento pela cabeça do leitor, mas fique descansado: eu sei que se duas andorinhas não fazem a primavera, muito menos duas vitórias fazem a época.
2 Olho para o sistema, assimilado ao ponto que é possível em pouco mais de um mês de trabalho, constato os movimentos ofensivos que indiciam trabalho de qualidade, as bolas paradas que até já resultam em golos - que mais-valia em relação ao passado recente! -, vejo a subida de produção de vários dos que já cá estavam ou a forma como joga o rejeitado, e agora ressuscitado, Florentino, como foram incorporados Enzo e Neres, verdadeiros luxos que entraram diretamente para o onze, e dá-me vontade de perguntar a todos os que zurziram em Schmidt por ter levado 38 jogadores para estágio: se o alemão soubesse o que andava a fazer, teríamos goleado o Midtjylland e o Arouca por seis, por sete ou por oito?
3 Gosto do discurso simples, sincero e direto de Roger Schmidt, da ausência de bazófias e "soundbytes", da forma como se foca no jogo e relativiza, com elegância, as questões laterais. Bem sei que é fácil falar em cima de vitórias, mas a diferença para Jorge Jesus é do dia para a noite, ou melhor, da noite para o dia. Encurtando razões, que o espaço não é aqui ilimitado: se Schmidt for tão bom a comunicar para dentro como é para fora, temos homem.
4 Os benfiquistas estão encantados com a equipa, e com os resultados, e eu estou encantado com a equipa, com os resultados e com os benfiquistas - manifestam-se pelo Benfica, só pelo Benfica: não vi ou ouvi no estádio da Luz, com mais de cinquenta mil nas bancadas em cada um dos dois jogos desta semana, um cântico, uma palavra de ordem, sequer um pequeno cartaz com ofensas dirigidas aos nossos rivais. É também por isto, muito por isto, que somos os maiores.
5 Foi uma semana de propostas sem fim - elas vieram do Conselho de Arbitragem, de Pedro Proença, de António Salvador, sei lá de quantos entendidos mais. Medidas concretas, palpáveis, com impacto na resolução imediata dos graves problemas do futebol nacional? Zero - e estou até a reforçar com uma bolinha feita com os dedos da mão direita: zero! Se o futebol português continuar a depender das boas intenções de toda esta gente, não deixará tão cedo o inferno.