PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Nunca ninguém sabe o limite dum jogador para além do primeiro impacto que provoca no inicio da carreira.
Gonçalo Ramos pertence aquela categoria de nº 9 que torna impossível não se gostar dele à primeira vista sem, no entanto, ficarmos deslumbrados.
Estou a falar por mim. A sua atitude competitiva, indo por todo o lado à procura da bola e do jogo (atenção, as duas coisas ao mesmo tempo), mais atrás ou num flanco, o arrancar depois com ela ou lutando nas divididas mais duras, fazem, por si só, querer que o seu futebol dê certo na avaliação final.
Faltava, agora, após esse ímpeto inicial, serenar tanta luta para passar a selecionar melhor o que fazer, a que bolas ir e onde. Numa frase: deixar de procurar tanto e esperar encontrar (entenda-se, o espaço certo, a bola e o passe certo para marcar).
É o que este novo Gonçalo de Ramos nº 9 de espera finalizadora de Schmidt tem do segundo-avançado de luta e bolas divididas de Veríssimo. A melhora toca todos os indicadores. Os golos confirmam o especialista acima do avançado lutador polivalente. Já se pode gostar mais dele além da primária sedução pelo esforço.
2 Os três golos que marcou, nessa agora "garra seletiva" perante o jogo, parecia ter tornado o seu horizonte mais claro dentro da equipa. Ler, no dia seguinte a essa proeza, que, em vez de ganhar o lugar nº 9 no onze do Benfica, tal foi o canto de seria decisivo para uma transferência milionária, diz tudo sobre no que se tornou a jaula financeira do futebol atual. O clube não prescinde do plano de o vender já, mesmo antes dele se instalar como ídolo em casa.
Gosto deste sentimento de amor à primeira vista duma massa adepta em relação a um jogador. Noutro plano, David Neres não vem da formação nem chegou barato. Recorda-se a recente tristeza de Cebolinha sem expressão e penso no peso comensurável para o jogador em demonstrar a sua categoria como o seu caráter e atitude. Bastou-lhe um par de jogadas (meter a bola por um lado e busca-la por outro, deixando o defesa perdido no meio, e centrar na medida certa) para conquistar todos esses desafios.
3 A novidade finta o desgaste. Neres e Ramos apropriaram-se desse tesouro de inicio de época e fizeram a equipa entrar nela (já disputando jogos decisivos) num nível competitivo mais alto do que o natural para este momento.
Não vou baixar o entusiasmo em torno de Ramos dizendo que este impacto se reduz ao emotivo e apensa a um jogo bem conseguido. Sedutora intuição. O seu atrevimento colocado no sitio certo, sem andar a correr por tantos espaços, tem qualidades sustentadas e selecionadas pelo treinador e toda a equipa beneficiou imediatamente disso. Ver que a consequência é sair, confunde os espírito. Em tudo.
O primeiro "Galo Europeu"
Longe, a leste, no lusco-fusco de Riga, na Estónia, a estreia do Gil nos relvados europeus, mesmo contra um adversário de segunda linha europeia, criou um frio na barriga que encolheu, naturalmente, a equipa toda a primeira parte. Era como se os jogadores mais do que sentirem o jogo que jogavam, sentissem o peso da História em que estavam envolvidos (mesmo que no onze inicial estivesse um novo extremo japonês, Mizuki, chegado há uma semana, a quem tudo isto não diria certamente muito). Há coisas que são transcendentais no futebol.
E, assim, foi outro japonês, Fujimito, já estabelecido em Barcelos como nº 10 que nunca deixa o sol se pôr no jogo, a mudar o curso da exibição da equipa. Pegou na bola e a equipa (mesmo tendo perdido valores tático-rotativos, como Pedrinho, da época anterior) reencontrou a memória coletiva do seu bom e simples futebol em 4x3x3. Empatou o jogo (que grande golo de Boselli) e esteve quase, quase, a ganhá-lo. Agora falta a segunda mão para continuar este conto de futebol europeu.
Eu sei do perigo e efeitos do desgaste deflagrado destas pré-eliminatórias no plano interno. Há antepassados que o provam. É necessário controlar esses danos físico e mentais, mas já ninguém tira esta emancipação futebolística internacional do Galo de Barcelos.