PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro.
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Numa reportagem publicada esta semana neste jornal, o jornalista foi para o centro da cidade de Braga falar com os adeptos.
A expressão "título" aparece nessa reportagem algumas vezes, nas palavras dos adeptos, uns mais racionais e outros mais emotivos. Não deixa de ser curioso que, no dia seguinte, o treinador Artur Jorge tenha vindo colocar alguma "água fria na fervura", pois ele sabe bem que a gestão das expectativas é um processo fundamental para a sensação de que os objetivos são cumpridos.
a verdade, se colocarmos a fasquia na conquista do campeonato, um "mero" terceiro lugar pode dar uma sensação de alguma frustração. E isso seria uma profunda injustiça para os homens de Artur Jorge. É que não deveremos confundir o desejo e a crença com a realidade. Por muito que os livros de autoajuda insistam que se acreditarmos muito em algo, esse algo acontece, a vida ensina-nos que nada disso é verdadeiro.
A crença e o desejo não têm as necessárias características materiais da física, que permitam uma qualquer ação causal. São importantes, claro, como processo motivador. Mas, por si só, nada garantem. Daí que Artur Jorge, e bem, alertou para que nos deveremos centrar naquilo que podemos controlar. E, verdadeiramente, o que podemos controlar é manter o terceiro lugar, pois tal só depende de nós. E é um resultado de grande mérito. O título ou o segundo lugar dependerão das outras equipas perderem pontos (escrevo esta crónica antes de conhecer o resultado do FC Porto-Paços de Ferreira) e, nesse aspeto, apenas poderemos almejar a "roubar" três pontos ao SL Benfica, que, ainda assim, não seria suficiente para vencermos o título. Por isso, é necessário não embandeirar em arco, pois - como referi - o terceiro lugar poderá parecer um resultado menos bom. Mas não é. É um excelente resultado e dará acesso a tentarmos a nossa sorte na Champions.
E tem sido este o espírito que a equipa transmite em cada jogo. Contra o Casa Pia, foi, mais uma vez, a atitude de grande pragmatismo que nos deu mais uma vitória em mais uma final. Artur Jorge e os seus jogadores perceberam que seria necessário, por um lado, ter a paciência suficiente para ir tentado desgastar as apertadas marcações defensivas do Casa Pia e, por outro, que o processo para tal desgaste seria as sucessivas e rápidas trocas de bola entre os talentosos avançados bracarenses, com sistemáticas incursões pelo meio, colocando os passes (curtos) entre as linhas da muralha defensiva adversária. Fomos sempre superiores e vencemos com toda a justiça.