HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
Corpo do artigo
Era uma vez um castelo
Nesse castelo viviam pessoas que fizeram algo de impossível: ligar tudo e todos ao redor do seu clube: o Vitória. Todos juntos, sem paralelo no "reino" de Portugal. O problema é que nesta história medieval existe um monstro chamado instabilidade permanente, que impede que o clube se desenvolva de acordo com o seu capital humano. Dois lados da barricada: por um lado a direção alega a necessidade de equilíbrio financeiro; por outro, o ex-técnico Pepa, que ficou furioso pela venda de Rochinha, o seu maior desequilibrador.
Não há dia apropriado para um divórcio, mas a véspera do nascimento da criança é que não é de certeza. Às portas da eliminatória da Liga das Conferências, o timing foi o pior possível. E lá vai o Vitória começar sem o técnico da época anterior. E quem tem razão é o que menos interessa: se Guimarães se conseguiu unir em torno do clube (difícil), também consegue definir uma estratégia de longo prazo (mais fácil) que impeça tanta turbulência ano após ano. Para bem de um "reino" que tanto necessita de um quinto cavaleiro a mostrar serviço por esta Europa fora.
André Silva: aposta segura
A instabilidade não é sinónimo de caos e a contratação de André Silva ao Arouca representou um passo firme de reabilitação da zona central da área, isto após a saída de Óscar Estupiñan para o Hull City. Seja como for, são jogadores distintos e o Vitória ficou munido de um elemento que, para além de ser hábil a finalizar, apresenta também recursos técnicos que fazem dele mais do que um simples concretizador. Esquerdino, bom tecnicamente e astuto o suficiente para jogar em vários modelos, André Silva compensa a falta de robustez física com técnica apurada. E já com estatuto na liga: evoluiu no Rio Ave, brilhou no Arouca e agora dá o merecido salto.
Florentino Luís: o recuperador voltou
A pré-época ainda vai no seu início, mas já há alguns sinais de mudança. Desde logo o regresso de Florentino Luís à equipa do Benfica. É caso para se dizer que "o recuperador voltou". Com muita habilidade para bloquear os pontos fortes dos adversários - sobretudo ao nível das transições ofensivas - evidencia o seu jogo pela capacidade permanente de recuperação e, quando está no seu pleno, uma recuperação que se faz em zonas altas do campo. Parece ter entrado nas contas de Roger Schmidt e traz consigo a reflexão: não teria dado jeito na época passada? E nota alta também para o jovem central António Silva, revelação do estágio.
Francisco Conceição: elevar os Países Baixos
É um jogador com atributos difíceis de encontrar: a uma enorme capacidade de desequilíbrio e velocidade alia a competência para soltar no tempo certo e, com isso, não deixar cair o seu trabalho em saco vazio. A margem para evoluir é imensa e, num clube holandês com escola, vai encontrar um cenário propício ao desenvolvimento do seu trabalho. Fica também na memória a capacidade emocional: no meio de um Estoril-FC Porto que foi decisivo nas contas finais, Francisco foi um dos artífices da reviravolta. Parte em busca de estabilidade (leia-se titularidade mais frequente) com a convicção de que está no trilho correto.
Ferro e Diogo Leite: relançamentos
São jovens, atuam na posição central da defesa e ainda não conseguiram passar à condição efetiva de certeza. Ferro e Diogo Leite partem para o centro da Europa na perspetiva de, fora de portas, ganharem a serenidade necessária para se afirmarem numa posição em que maturidade e tranquilidade são fatores determinantes.