VELUDO AZUL - Opinião de Miguel Guedes
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A fome de títulos é transversal a cristãos e muçulmanos, a qualquer cultura e religião. Modo de vida. O FC Porto, sabe-o Sérgio Conceição, está longe de celebrar marcas pessoais nos Aliados.
É evidente que a possibilidade de estabelecer um novo recorde de 57 jogos sem perder em Guimarães (igualado que já foi o de John Mortimore, alcançado entre 76 e 79) é um número sonante e, à medida que o mundo pula e avança, adensando a competitividade, mais difícil de obter e de bater no futuro.
Matar a fome com marcas pessoais, no entanto, é algo que não vem na ementa. Depois da pressão extra que o Sporting colocou com a vitória de ontem em Tondela, aproximando-se à condição, só uma vitória frente ao Vitória interessa. Jejum pela Quaresma ou pelo Ramadão não muda a fome de figura. Só os três pontos poderão ser bem digeridos.
Para o FC Porto, um ano sem ser campeão é jejum intermitente. Não ganhar o campeonato esta época somaria a um outro, algo a que nenhum dragão se quer sujeitar. Seriam anos de fome, sabendo que já se contaram 19 num tempo que, parecendo quase perdido, não se esquece nem nunca esmoreceu o "ser portista".
Mas o ADN que o FC Porto solidificou em democracia, desespera em ausências. Um onze com fome de bola. Taremi, que o ano passado somou golos após golos durante o Ramadão (com hipergolo frente ao Chelsea, inclusive), está - como Conceição referiu, esboçando um sorriso interior - a 1000%. A mesma percentagem para Zaidu que, na jornada anterior frente ao Santa Clara, somou 93 minutos num encontro sem desacertos.
Se ambos vão ser ou não titulares num jogo de particular exigência, é mais discutível. Nenhum deles poderá ingerir alimentos desde o nascer do dia até ao final da partida, o que cria naturais dificuldades suplementares. Só um Sérgio Conceição que admitiu correr 20 km em jejum poderá, tendo em conta a resposta que os jogadores têm dado nos treinos (também eles em abstinência), saber do que são ou não capazes.
Com Manafá e Bruno Costa fora das escolhas, Wendell poderá ter nova oportunidade. E Fernando Andrade espreita nos convocados.
Há 10 jogos que o V. Guimarães não empata, parecendo uma equipa de tudo ou nada. Um grande jogo em perspectiva em que uma vitória do FC Porto até permite deslizes nos jogos com Braga e Benfica. Hoje pode ser decisivo.