FOLHA SECA - Uma opinião de Carlos Tê
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Não há memória duma final europeia tão fraca como a da Liga Europa na última quarta-feira, um jogo animado mas de terceira divisão, muito aquém das coreografias das bancadas e dos confrontos nas ruas de Sevilha, entre bandos de alemães e escoceses que, segundo filmagens de telemóvel feitas por transeuntes abrigados nos umbrais sevilhanos, investiam uns contra os outros usando os guarda-sóis das esplanadas como escudos de guerra para se protegerem das cadeiras voadoras.
A vítima principal destes recontros foi a má reputação dos ingleses, que empalideceu bastante, mas como falta disputar a final da Liga dos Campeões entre Manchester City e Real Madrid, é provável que venham a recuperar, nas ruas de Paris, o crédito de hunos - usurpado momentaneamente na Andaluzia.
O Rangers eliminou um Braga notoriamente superior graças à asfixia exercida pelo seu estádio, um Ibrox ululante e assustador, algo que a Pedreira não podia ser.
Voltando à final: deve ter havido nacos mais interessantes de futebol na antiga Taça Intertoto, tal a insipidez do Eintracht de Frankfurt e do Glasgow Rangers. Para o bem e para o mal, isto só reforça a importância dos adeptos. O Rangers eliminou um Braga notoriamente superior graças à asfixia exercida pelo seu estádio, um Ibrox ululante e assustador, algo que a Pedreira não podia ser na primeira mão, e ainda assim o Braga venceu. O mesmo sucedeu com o Eintracht, que, graças a um ardiloso esquema de compra online de bilhetes, apareceu em maioria em Camp Nou, numa ensurdecedora onda de alemães que empurrou para trás um Barcelona a lamber a suas feridas, mas, apesar de tudo, o Barcelona. Entretanto, o Lyon tombava aos pés do West Ham, que tombaria perante o Eintracht, enquanto o Rangers, depois de eliminar o Braga, afastava o Leipzig e chegava à final, para a perder nos penalties.
O que é que isto me lembrou? Que tão cedo não haverá uma chance destas para o Porto ganhar outro troféu europeu. A eliminatória com o Lyon mostrou uma equipa rompida até ao forro e aliviada do seu grande desequilibrador, transferido para Inglaterra para tapar buracos da SAD - uma estratégia desportiva a que o clube doutros tempos teria feito um sonoro manguito. Mas as coisas são o que são. Imagine-se o que era o Benfica vender Darwin em Janeiro e ficar em terceiro lugar, como ficou. Certo é que, mesmo com prognósticos só no fim, os portistas sentem que a Liga Europa podia ter sido diferente com Luis Diaz na frente. A sua saída foi má para o futebol português porque provocou danos colaterais extensivos ao Braga, amputado de Galeno, que não veio acrescentar nada ao Porto.
Mas tudo está bem quando acaba bem. Apesar do percurso no campeonato e da provável dobradinha, hoje, convém lembrar que o Sporting não teve os muito inspirados golos de Pote da última temporada, assim como os de Coates no fim dos jogos. A beleza do futebol é que raramente se repete. Espero que o Porto não confie de mais na Senhora de Fátima porque, como boa mãe, Ela reparte o bem por todos, e Conceição não ficará sempre. Mas ninguém lhe tirará o amargo de boca - e aos adeptos - da Liga Europa. Sobretudo depois da final soporífera e acessível.