A JOGAR FORA - Uma opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Fim do ciclo de uma gestão da FPF que não soube avaliar atempadamente o evidente esgotamento do selecionador, que não foi capaz de colocar a equipa ao abrigo de polémicas estéreis e inúteis, que depois de uma vitória como a obtida ante a Suíça deixou que o foco se virasse unicamente para (o suplente) Cristiano Ronaldo, que, entre muitas outras maldades, fez de Rafa o bode expiatório do não apuramento direto para o Mundial e, já durante a competição, inventou um inocente coreano como alvo dos impropérios que CR7 dirigiu a Fernando Santos, que não tem - a palavra é esta - competência para aproveitar, quanto mais potenciar, o notável trabalho que vai sendo feito pela formação dos clubes.
2 - Fim do ciclo de um selecionador cuja produção da equipa fica a léguas do que valem os jogadores por si escolhidos, que não tem génio para definir e implementar um modelo de jogo à sua (dos jogadores) altura, que lidera uma equipa que alterna altos (poucos) e baixos (muitos), que depois de 2016 tem acumulado fracassos em fases finais de Mundiais e Europeus, e que se deixou ontem surpreender por uma seleção marroquina que já tinha mostrado ao que vinha, dando-lhe uma parte de avanço, porque não a soube estudar ou não foi capaz, com tanto talento à sua disposição, de encontrar uma fórmula para lhe dar a volta.
3 - Fim do ciclo ao mais alto nível de um jogador que marcou uma era no futebol mundial, cujo ego o conduziu durante anos à transcendência, mas que se mostra, agora, em absurdo estado de negação perante uma carreira em acentuado declínio, que soma atitudes erráticas e gestos irrefletidos em prejuízo próprio e dos grupos de trabalho em que está inserido, que já não tem condições de calar as críticas com performances extraordinárias dentro do campo, que deixa a mulher e irmãs imiscuir-se publicamente em assuntos da sua vida profissional e que precisa, como de pão para a boca, de parar para refletir nos passos que tem que dar para fechar, como tanto merece, a sua brilhante carreira em beleza.
4 - Fim do ciclo das seleções africanas ingénuas, pouco intensas e taticamente impreparadas para se baterem com as melhores europeias - Marrocos tratou da saúde à Bélgica, à Espanha e a Portugal, garantindo, para já, um lugar entre as quatro melhores do Mundo. Por uma dessas ironias em que a vida é fértil, Fernando Santos foi ontem vítima do mesmo veneno que o levou a ganhar o único Europeu da nossa história: tração atrás e aposta total no erro adversário ou no rasgo de um dos seus.