Ficou no ar o sentimento de que Sérgio Conceição queria ditar algo nas entrelinhas
VELUDO AZUL - Opinião de Miguel Guedes
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Depois do FC Porto não ter comparecido a jogo em nenhum dos minutos frente ao Liverpool, maculando a ideia de que quer e pode discutir a passagem da fase de grupos para os 1/8 de final da Liga dos Campeões, consegue reagir e insurgir-se, ao ocupar categoricamente os 90 minutos contra o Paços de Ferreira.
Sem sombras, sem duvidar de si mesmo quando entra no jogo a perder, mesmo quando a vitória não alarga para números confortáveis até ao apito final e, ao contrário de tantas vezes no passado, nunca dando a ideia que o empate poderia abater-se sobre no Dragão com maior facilidade do que o natural dilatar da vantagem que, ainda assim, acabou mínima.
2-1, sem amargos de boca, sem razões de queixa ao espelho ou recados internos ao bater da porta. Com solidez. Fora das quatro linhas ou no campo.
Ficou no ar o sentimento de que Sérgio Conceição queria ditar algo nas entrelinhas quando afirmou que às vezes, perante os erros que são cometidos, é melhor olhar para o que temos em casa.
Francisco Conceição foi titular na ressaca da goleada na Champions e esteve bem no que entregou ao jogo. Rompedor e repentista, com aquele jeito único de quem cola um íman na chuteira para atrair e manter a bola em uníssono, centro de gravidade abaixo da média mas de cabeça levantada, arrojo para dar e vender, é um daqueles jogadores que atira a equipa para um espaço à frente, ao queimar metros e linhas, avançando para cima dos adversários, forçando a vertigem. Vertical, a precisar de liberdade para acertar e errar, teve-a e, após tanto tempo no banco, só esta parece ser a receita para crescer. Fez ontem mais minutos do que na soma de todos os outros jogos e bem merece não estar remetido aos típicos 10 minutos em esforço final de contenda ou em franca distensão colectiva quando o jogo está ganho.
Perante o bom jogo de Evanilson e um Luis Díaz em estado de graça, a dimensão da mudança não serve a todos. Muda-se em competição não só porque se quer mas também, e sobretudo, porque se pode. E este plantel pode. Tem soluções que permitem um jogo mais directo ou mais rendido à posse, mais rasgado ou mais técnico, mais físico e vertical ou trabalhado à filigrana do recorte no espaço curto.
O que Sérgio Conceição não permite é que seja laço e dispense a intensidade. Pode ganhar por um golo em aperto máximo, mas não permite a mínima margem para ausência competitiva. Porque a intensidade é produto da intenção e o FC Porto nunca pode partir para um jogo, seja ele qual for, sem querer cumprir um propósito.
E na dinâmica dos equilíbrios, a complementaridade entre o melhor Sérgio Oliveira que surgirá e o melhor Vítor Ferreira que já temos, permitirá que outros, mais à frente, possam errar para acertar muitas vezes.
O passado, ainda que recente, não assegura a titularidade nem assina contratos.