FC Porto terá que contrariar a formatação Champions e lembrar Sevilha, lembrar Dublin
VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes.
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O ADN é ganhar. Mas esse é o resultado que faz parte da equação. Para a soma das muitas partes, exige-se o compromisso, a luta, a arte e o engenho, o antes quebrar que torcer, o fazer das fraquezas forças, o espírito de equipa indomável, arrojo e desassombro, acrescentar peso às camisolas, a inteligência emocional, a ambição e inspiração de conquista, os olhos nos olhos e a mão na mão, ombro a ombro, solidariedade.
E respeitar a História. Na semana em que o FC Porto cai da Liga dos Campeões para a Liga Europa, terá que contrariar a sua formatação Champions e respeitar a sua História. Lembrar Sevilha, lembrar Dublin.
Fazer desta tristeza de não se sentir no seu espaço, para conseguir criar um outro lugar melhor. Não será necessária uma transfusão de sangue. Está tudo na soma das partes do código genético do FC Porto.
Num grupo particularmente difícil onde o "papão" Liverpool sai fora das contas, o FC Porto fez uma das mais equilibradas fases de grupos da "era Conceição". Também uma das menos eficazes por parte da linha avançada e onde os erros de arbitragem acabaram por ser mais preponderantes. Em todos os jogos, sem exceção (até com o Liverpool), a equipa ficou a dever golos a si mesma. Particularmente em Madrid, em Milão e neste último jogo com o Atlético, os três pontos que importava somar estiveram à mão da passagem para os oitavos. Os curtos 5 pontos com que termina o grupo poderiam ter sido, com alguma facilidade em retrospetiva, mais do dobro. Mas é a Liga dos Campeões e os detalhes fazem a diferença. Foram detalhes que na época passada nos permitiram eliminar a Juventus com pompa e circunstância. Foram detalhes que nos fazem cair assim, este ano.
Hoje, de volta ao principal objetivo na Liga Portugal, com um Braga adulto e em crescendo, Sérgio Conceição estará no banco de onde o quiseram retirar, cirurgicamente, numa decisão sem sensatez, relativa a declarações proferidas em Fevereiro. Como costumo dizer, uma justiça que não se concretiza no tempo é um simulacro de justiça. Campeões da Europa, Campeões da Europa e do Mundo em clubes, milhões e milhões, décadas de futebol profissional, sociedades anónimas e ainda andamos nisto.
Wendell já teve castigo
Wendell foi anjinho, Clément Turpin foi o diabo. O árbitro francês seria o pior profissional a pisar o relvado da derradeira noite de Champions no Dragão, não se desse a circunstância de haver um VAR ausente ou incompetente. Para além de um penálti que ficou por marcar e dos provocatórios 5 minutos de tempo de compensação, o lance que marca a expulsão de Wendell é claramente para amarelo. Nunca para vermelho. Se o árbitro pode ter sido iludido, o VAR tinha obrigação de alertar para a diferente cor do cartão. Faltou coragem, face ao que se tinha passado 4 minutos antes. Apelidar o gesto de Wendell de conduta violenta é driblar sem arte o manual das leis do jogo, brincadeira conveniente que permitiu equilibrar a balança que o Atlético de Madrid desequilibrara, em sentidos opostos, com o golo e com a expulsão (essa sim, devida) de Yannick Carrasco. A reprimenda algo injusta e a quente de Sérgio Conceição ao jogador, logo no fim do jogo, tem agora um feliz epílogo: para o jogo de hoje com o Braga, é Wendell e mais 10. Conceição terá percebido que aquela expulsão já fora suficiente castigo.