FOLHA SECA - Opinião de Carlos Tê
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Era grande a curiosidade para ver o primeiro teste a sério sem Luís Diaz, e logo num jogo que quase podia definir o campeonato. O recurso a Galeno, antes de Pêpê, soou a recado, tal a sua inutilidade. Valeu Fábio Vieira, que parece finalmente despertar para a refrega.
O resto foi o que foi. Perante equipas rigorosas e de boa técnica, as fragilidades do FCP vêm à tona. A maior delas é o modo como se deixa arrastar para situações que não domina, a quezília, o sururu. O FCP é fácil de provocar. Não há treinador na Europa que desconheça este segredo. Simeone tirou partido dele para ganhar a eliminatória da Champions no Dragão, em que o Porto se deu à morte apesar de ser melhor do que este Atlético de Madrid.
Ao morder o isco - quiçá por não trabalhar bem o aspecto a que chamam inteligência emocional, mas eu prefiro ratice, uma vertente subterrânea que faz parte do jogo, por muito incenso que a padralhada da bola lance sobre o assunto - o FCP perde o foco. O plano é simples: para os venceres, provoca-os até o nervosismo se instalar. Depois puxa o fio. À medida que o fio é puxado, a ideia de jogo perde-se no caudal que alimenta a maior qualidade da equipa, a intensidade, e ela vai abrindo brechas.
O sarrabulho não é a praia do FCP e não percebo que jogadores como Pepe e Otávio, cuja obrigação é liderar, sejam os primeiros a comprar as brigas que lhes metem à frente do nariz. Neste capítulo, o Sporting de Amorim é mais adulto porque sabe minar os ritmos do adversário com pequenas litigâncias e pausas que refina em função do jogo e do árbitro.
Depois da fumaça, como disse Amorim, e bem, distribua-se a lenha que tiver que ser distribuída. Porque apesar do precioso abraço entre os dois treinadores, nada os iliba do que aconteceu: há que repensar o nível de pressão que põem nos jogadores nestes desafios, pois estes têm que conhecer o ponto exacto de arruaça para saberem parar. Porque a máxima Um por Todos e Todos por Um pode ser nobre, mas apanhar estilhaços não é coisa que os mosqueteiros gostem de fazer.
Já o presidente Varandas puxou dos galões de intrépido oficial do exército para ter o seu momento Pinheiro de Azevedo, mas limitou-se a repetir uma vulgata estafada: 40 anos de inferno e 60 de paraíso, quando a irmandade da segunda circular distribuía, sem pecado, os títulos entre si. Quanta saudade!
Uma nota para os aprendizes de incendiários que pululam nas televisões: passam a semana de lança-chamas em riste e depois debitam sentenças sobre a vergonha do futebol pátrio. A França, campeã do mundo, vai em três jogos que não chegam ao fim, seja por batalhas campais, seja por acção do público, e não andam a rasgar vestes por lá. Guardem as acendalhas porque a guerra de audiências é só fumaça e má publicidade. Há que tirar o futebol do PREC de 40 anos e evangelizá-lo dia a dia, mas cuidado: muitos evangelistas acabam cheios de alcatrão e penas.
Quanto a Díaz, a sua ausência mostrou falta de ideias e capacidade explosiva. Só ele podia desaparafusar o empate.