PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 O campeonato entra na reta final, de cinco jornadas, da sua primeira fase. A paragem para o Mundial a meio da competição torna toda esta época atípica, disfuncional e imprevisível.
A situação em que estão as equipas nesta fase pode mudar muito após esse abismo entre jornadas e jogos.
É impossível prever como vão reagir e reaparecer. Entretanto, a situação com que irão ter de mentalmente gerir esse espaço pode ser muito diferente e, nesse sentido, já é possível imaginar como essa (melhor ou pior) atmosfera as poderá condicionar.
É nesse contexto que olho para atual situação do FC Porto que, antes dessa paragem, tem dois confrontos em casa com os dois primeiros (Braga e Benfica, por esta ordem). Conceição já disse que viver com pressão é a condição natural num clube como o FC Porto, mas esta é daquelas que confronta a equipa com o risco de ou voltar a colar-se lá em cima ou poder descolar pontos a mais face ao que é natural.
2 Olhando o seu momento de jogo irregular, esse receio come o universo portista nestes dias. Como e onde mexer na equipa para lhe revitalizar a competitividade máxima? Um extremo que entre com desejos de revolta para mostrar o que é como Veron? Reforçar o meio-campo com o médio mais pressionante ao dispor como Grujic? Acho esta opção a mais provável para atacar o claro problema tático-comportamental do onze situado na menor intensidade desse setor nesse momento do jogo.
Durante a paragem, vi que Conceição chegou a treinar um sistema de três defesas-centrais. Não creio que vá por aí (sobretudo porque, embora com soluções para poder jogar assim, o plantel não foi feito a pensar nisso), mas só o ter feito já demonstra a oficina tática com que anda na cabeça.
Quando se começa a ter de dividir a semana entre campeonato e Champions é natural começar a jogar um jogo pensando demais no seguinte, atribuindo prioridades. Isso leva a uma inevitável quebra de qualidade, perda de tensão e, no fim, ao possível desaire.
3 O Braga chega a este jogo com a melhor pressão. A de, atendendo à sua dimensão de candidato camuflado, só ter a ganhar com um bom resultado. Joga também com as certezas táticas que tem. Não existe margem para duvidas em relação à base do seu 4x4x2. Se mexer muito nas peças dessa máquina, Artur Jorge corre o risco de a confundir (viu-se na primeira parte frente ao Union Berlin).
A equipa já mostrou que está num nível superior de conhecimento do modelo de jogo, mas estes são os confrontos diretos que falam a verdade absoluta sobre esse poder a todos os níveis. E, claro, com Ricardo Horta. Chega fresco da seleção. Além disso, já se viu que soube ultrapassar os efeitos da transferência falhada. Inteligente, concentrado e objetivo.
Para quê tantas substituições?
A Seleção Nacional caiu a dois minutos do fim, ma,s na cabeça que comanda o comportamento tático, já tinha começado a cair muito antes.
O recuo no terreno (jogar... com o empate que se tornou, a meio da segunda parte, em jogar... para o empate) deu a bola e o campo à Espanha, que entretanto lançara os "chicos" Pedri e Gavi, que realmente sabem jogar.
Mais do que pressionar, a equipa quis, em quase todo o jogo, organizar-se mais a fechar espaços. Pouco arriscou no roubo da bola com medo de desproteger as costas. Jogar com a cabeça dominada por estes princípios de receio raramente acaba bem.
Sobre a discussão de quem devia ter saído e/ou entrado na parte final, não consigo entrar porque, pura e simplesmente, acho que não devia ter feito nenhuma alteração nessa fase.
A história das cinco substituições só veio confundir mais os treinadores. Sentem necessidade de as fazer, não querem ser acusados de não ter feito tudo e depois há sempre a história do jogador que não aguenta e pede para sair quando faltam cinco minutos. Com as três substituições aguentava naturalmente esse curto tempo, recuava a defender, dava o que não tinha e nada desta história teria existido. Por mim, voltavam as três, já! Os treinadores ficam claramente piores com as cinco substituições que podem fazer.