PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - É difícil, penoso mesmo, comentar um jogo que estava a ser bem jogado, querer falar de futebol, e ser devorado por uma sucessão de casos e situações surreais. Nesses momentos perguntamos o que estamos realmente a fazer ali. Qualquer coisa que se diga sai para ser recebida em fúria por quem esta a ver o terreno de areias movediças em que o relvado (e tudo em seu redor) se tornara.
Fiquei com a boa organização defensiva do Arouca, mais um bom plano de como defender bem montado por Daniel Ramos, especialistas nestas estratégias, desta vez com três centrais (gosto de ver a velocidade de dobras de Rafael Fernandes) numa "linha de 5" (5x4x1 sem bola) em bloco médio-baixo (acabou numa trincheira), mas sempre com olhos para o contra-ataque (sobretudo na primeira-parte, via a dupla Simão-Sylla no meio) a lançar três avançados de técnica (excelentes nas receções), combinando bem por dentro: Cristo, Jason e Mujica. Um plano de mercado hispânico que garantiu jogadores muito competitivos que entraram imediatamente na equipa.
O FC Porto, após uma primeira parte sem ideias (continuo a achar que Nico González, com último passe de qualidade, joga muito recuado), melhorou quando lançou Evanilson e a dupla de pontas-de-lança passou a jogar junta (e não só estar ao mesmo tempo em campo). É a diferença da dupla Martínez-Taremi para a Evanilson-Taremi. Até este melhora logo ao colocar-se uns passos mais atrás (entre linhas), jogando quase como segundo avançado a aparecer.
O jogo abriu mais nas faixas (Pepê é hoje mais extremo a lateral, do que na origem ofensiva, em que Conceição pede-lhe que jogue mais por dentro e ele perde "timings" de decisão sem conseguir pensar bem o jogo). O empate surgiu num dos últimos lances da espécie estranha de jogo em que este se tornou num período de descontos infindável.
2 - A intenção de Amorim a meter Daniel Bragança (ao minuto 60) era voltar a ter, com dimensão técnica, mais bola e controlo do jogo (a partir do seu centro do meio-campo) mas ao tirar Hjulmand perdeu o que o jogo mais precisava nessa altura, que era, antes de ter a bola, ter, com dimensão física, o poder para a recuperar e segurar frente ao Braga que crescia.
Antes, a entrada de Edwards fora bem pensada para os espaços de contra-ataque que iam aparecer mas o inglês entrou mesmo "soneca". A possibilidade, nestas circunstâncias, de um treinador poder meter um agitador criativo veloz pode mudar tudo. Sucedeu com Djaló.
Através dele, Artur Jorge revolucionou o ataque bracarense. Empatou e quase cavava a vitória. Ao Sporting, que chegou a ter o jogo nas suas mãos táticas, faltou saber reagir muscularmente com a cabeça no período mais difícil. Haverá sempre um local onde se encontra futebol.
Boavista: o xadrez do líder
A cada jogo que passa a equipa vive mais do nível de organização do que da intensidade de pressão. Em mais um trabalho de invenção de Petit, o Boavista ressurge com a sua identidade competitiva num 4x3x3 forte nas segundas bolas e que continua a ter um gestor de equilíbrios e passe desde trás, Seba Pérez, o pivô arquiteto do onze.
O triângulo do meio-campo pode, porém, adquirir diferentes formas/princípios dependendo de ser Reisinho ou Makouta que jogam mais adiantados. Percebo a opção de ser Makouta porque pressiona melhor à frente, mas penso que a equipa melhora muito a nível de poder de transporte desde trás quando Makouta recua e faz essa missão desde o "espaço 8". Precisava dum médio-ofensivo mais criativo (Reisinho pode crescer e Bruno Lourenço é uma hipótese) e, assim, ativa mais a chegada à frente desde as faixas, com os laterais (Malheiro-Bruno fecham e sobem) combinando com os alas que também se metem por dentro, onde as diagonais com controlo curto e desequilibrador de Tiago Morais (20 anos, destro desde a esquerda) já pedem seleção.
A nº9, Bozenik é um ponta-de-lança fino que sabe fugir a choques, ir buscar o lado de fora dos defesas mas sem ser avançado forte de ganhar na raça a bola aos defesas, precisa de ser bem assistido para marcar.