Eustáquio é, com bola, o mais criativo e técnico de todos os candidatos ao lugar
PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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1 - A pergunta tático-individual que saiu no fim do jogo do FC Porto transformado (em intérpretes, com cinco mudanças no onze, em sistema, o losango abdicou para a versão clássica do 4x4x2) era essencialmente uma: pode Eustáquio ser o nº 8 que a equipa busca para voltar a jogar o seu jogo no seu desenho preferencial? Para já, ganhou, como a sua exibição, o direito de liderar esse "casting tático".
O futebol visto dos pés da tática à cabeça: Eustáquio no "laboratório 8" de Conceição e as expressões de Ricardo Horta em Braga
Primeira aquisição de conhecimento em especificidade: em vez de fazer circular bola em passes mais longos (como faz por natureza), sair mais com bola em posse e definir com passes progressivos entrelinhas até surgir na frente com assistências (o ultimo passe para golo).
Não é fácil passar de um "6" de circulação para um "8" de condução na dimensão de equipa grande. Tal exige uma mudança de ritmos de jogo que pode chocar com os "timings" da sua velocidade natural (seja física como a ler e executar). Criar novos hábitos faz, porém, parte da vida e tantas vezes, em tantas situações, isso é a chave do sucesso de adaptação a novos desafios. Eustáquio está perante ele, no "atelier 8" de Conceição.
Tem uma vantagem em relação aos outros médios potenciais candidatos ao lugar: é, com bola, o mais criativo e técnico de todos.
2 - Quando falhou aquele penálti, rematando ao lado, sem conseguir calibrar bem o remate - e logo se viu a sua face distante -, receei que nesses gesto e expressão estivesse algo que se perdera em longas semanas disfuncionais para a sua cabeça. Quando, porém, no último lance do jogo, meteu, num livre ainda distante da área, aquela bola redondinha, na medida e balanceamento certo, sobrevoando toda a equipa vimaranense, para Tormena só encostar, viu-se que, seja mesmo com a semblante fechado, o seu talento é intocável.
Imagino a cabeça de Ricardo Horta dividida. Está em campo e tanto lhe passa por ela, a sua, como a seguir o jogo. É futebolisticamente humano.
Este Braga, porém, tem apelos que o podem fazer superar esse dilema existencial de carreira pelo poder que evidencia. Em vez da consagração num grande, poder lutar pelo titulo num clube que nunca o ganhou e se o chegar a tocar terá nele o herói da História.
Artur Jorge montou um 4x4x2 que tem um... banco de luxo. Só assim foi possível pressionar tanto e encostar às cordas da sua baliza um onze vimaranense tão bem montado por Moreno. Poder meter Abel Ruiz, Djaló e Lainez numa fase dessas dum dérbi tão fechado, atribuiu a este Braga tanto legitimidade como obrigação para ser esse extra-candidato. Soube, também reforçar a defesa neste fim de mercado. Pode parecer estranho mas esta vitória no último minuto (por 1-0) mostrou mais força do que as goleadas anteriores.
A alma da estratégia
Primeira grande afirmação do Moreno treinador. Mais que a emoção, racional ao montar um plano de jogo olhando ao mesmo tempo as realidades que limitam hoje o seu onze e como parar o forte ataque bracarense. Um visão que criou um novo sistema com três centrais (recuando Bamba, mantendo classe com bola mais perfeita noção de corte atrás) em 5x4x1 a defender que enjaulou o 4x4x2 do Braga e, nos limites da agressividade dos contactos físicos de marcação, seus os pontas-de-lança goleadores. Custou-lhe desdobrar-se para o ambicioso 3x4x3 a atacar, mas teve saídas de maior perigo em contra-ataque.
O resgate de André André (após a saída de André Almeida) mostra como esta equipa terá de ser feita como muito do que pode valer como estado de espírito mas foi quando o melhor Tiago Silva teve bola que o meio-campo também falou pela qualidade.
Na invenção de mais jogadores, Tounkara estreou-se a central com uma serenidade que mostrou como a equipa estava convicta do que fazia, assente no mérito de como o jogo foi preparado numa fase em que as diferenças de argumentos entre as duas equipas é enorme. Pela estratégia, na visão tática, Moreno encurtou as distâncias e quase pontuava.
Só não percebo uma coisa: porque não joga (ou entra) Jota Silva?
MODELOS
Marítimo - Bola queimada
Ouvir Vasco Seabra após o jogo mostra que o problema do Marítimo está longe de ser a equipa em campo, mesmo com instabilidade exibicional-mental e zero pontos. A clivagem interna corrói um clube com potencial e que, apesar das mudanças e com muitos jogadores ditos "difíceis", tem bom plantel. Perdeu, nos Açores, um jogo que teve virtualmente ganho porque o deixou fugir (ou fugiu dele) quando o teve na mão. Fazer uma boa equipa (fazendo grupo) é missão do treinador mas é impossível em areias movediças diárias.
Táticas - Santa Clara
Mário Silva mudou o seu Santa Clara para um sistema a três (3x4x3), mas a equipa, apesar do potencial da ideia, sentiu-se estranha nesse novo habitat tático. Os laterais (Sagna-Quintilla) não tiveram a coordenação certa de sair na profundidade ofensiva. A bola queimar piorou a situação. Estabilizou ao voltar ao 4x2x3x1 na segunda parte com Allano, extremo natural na esquerda. Deu a volta ao jogo e confirmou o talento de Gabriel Silva. Um avançado que, perigoso em todas as jogadas que entra, sabe sobreviver aos sistemas por mais que lhe sejam adversos. A equipa (com tantos jogadores novos) necessita solidificar esta base. Em campo e internamente.
Arouca - A tipologia Depois de um 0-6, o Arouca não sofreu golos. O adversário, claro, era outro, mas ao meter Sor mais entre os centrais (em vez de ter com um "6" como Busquets) ganhou rigor de posicionamento defensivo a cinco. A equipa, com médios tecnicistas como Simão e Ruiz, é melhor com bola do que sem ela a pressionar ou reagir à perda. Em jogos com grandes, custa caro. Em jogos equilibrados, mostra que sabe jogar. É um equilibro difícil de sair pela tipologia dos médios mas, nesta fase, manter a organização é a chave.