PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - A Champions traz um caleidoscópio de estrelas e nós podemos escolher, neste princípio, as que mais gostamos de ver brilhar ainda sem o inevitável grito dos gigantes que, mais tarde, irão silenciar estas primeiras promessas de sedução.
É o que sinto vendo um brasileiro repentista, de rasgo com finta e golo, de que comecei a gostar ainda jogava na Série B, no Bragantino. Foi ele mesmo que com esse futebol sambado multicultural trouxe a equipa para a elite brasileira. Foi curioso, então, assistir como de início, na Série A, os novos proprietários que tinham comprado o clube, a Red Bull, não o viram como o melhor símbolo para lançar o emblema nos melhores relvados e ele começou a ir para o banco.
A torcida revoltou-se. Não admitia que o seu herói, aquele que antes do dinheiro comprar outras potenciais estrelas, fosse ostracizado dessa forma. E, assim, aos poucos, Claudinho voltou a aparecer no onze inicial e, claro, partiu tudo com a qualidade do seu futebol. O Bragantino chegou às competições internacionais sul-americanas, Claudinho acabou campeão olímpico na seleção canarinha e valeu uma transferência milionária para a Rússia.
O atual Zenit tem outros brasileiros, com Wendell a controlar a condução desde trás e Malcolm a jogar muito bem desde a meia-direita num 3x4x2x1 de grande dinâmica ofensiva com o gigante Dzyuba sempre a n.º 9, mas que é quando solta Claudinho desde a meia-esquerda que tudo se ilumina.
Cada toque que ele dá na bola é como um picador de gelo emocional que quebra qualquer defesa. Com ele em campo é impossível sentir frio mesmo no inverno de S. Petersburgo. Aos 24 anos, é tempo de ganhar dinheiro, mas todo o mundo de Claudinho merece emergir num dos melhores campeonatos europeus.
2 - Outro jogador a crescer que me empolga ver jogar está numa das equipas da classe média europeia que tem revelado nas últimas épocas uma interessante estabilidade competitiva com revelação de jogadores. O Club Brugge, atual principal força do futebol belga de clubes. Provou isso na forma como empatou com PSG e venceu em Leipzig.
Como destaque, o criativo holandês (com origens no Suriname) Noa Lang. É uma ala destro que, seguindo os ditames do futebol moderno do "extremo pé trocado", joga a partir da esquerda. Tem imaginação e inteligência de movimentos com bola.
Aos 22 anos, relança a carreira no Brugge após, estranhamente para o potencial que revela, não ter ficado no Ajax, onde se formou. Algo que diz muito sobre o que é a nova política de formação do Ajax, hoje desviada conceptualmente em muitos fatores do dogma dessa aposta no onze principal como no passado.
Filho espiritual do futebol holandês, a Bélgica, embora crescendo com patamares táticos mais defensivos (a célebre defesa "em linha"), sempre respeitou de igual forma o talento que espreita desde o berço. Por isso, não admira ver Lang encontrar em Brugge o habitat perfeito para jogar e crescer.
3 - O onze, em 4x3x3, cria condições para Lang soltar-se como extremo moderno, enquanto na direita nasce outra promessa: o ganês Sowah, 21 anos, descoberto pelo Leicester (e depois emprestado ao Leuven) mas que nunca o aproveitou. É, nesse sentido, mais um caso de aposta de reinvenção da formação por parte do Brugge.
Na dinâmica do sistema, com um trinco clássico (o colombiano Balanta) e dois interiores subidos onde se destaca o sentido de organização de Vanaken (na experiência dos 29 anos sabe tudo sobre o jogo a nível de parar, olhar e... passar), a outra grande aposta de futuro é um ponta-de-lança esguio (1,92 m) e de técnica apurada (com formação também a meio-campo) que aprende a jogar como n.º 9 solitário mas que revela grande qualidade para jogar sobretudo em dupla de ataque tal a forma como combina, em largura ou profundidade, com o resto da equipa.
É De Ketelaere, 20 anos, produto das escolas do clube. Será interessante ver a sua evolução. Não acredito que se torne um verdadeiro homem-golo mas um avançado-centro de apoio e combinação. Tem mais relação com o jogo do que com o golo.