VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes.
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Como na história que os policiais contam e os interrogatórios confirmam, há um polícia bom e um polícia mau.
Também é assim com Otávio, só que juntos numa só pessoa. 27 anos, jogador brasileiro que chegou ao FC Porto B aos 19, em 2014, rumou ao V. Guimarães no ano seguinte e por empréstimo até 2016, ano em que regressa ao Dragão para se afirmar como titular.
Até hoje. Entretanto, três recentes investidas na Selecção portuguesa - onde soma dois golos e uma assistência nos jogos em que foi titular - calaram o habitual coro de puristas de sangue luso e odiosos de coração azul e branco. Há um Otávio bom e um Otávio mau. Fenómenos portugueses.
Há quase uma década que Otávio espalha o seu futebol nos relvados portugueses e europeus, permitindo identificar - à distância - qualidades singulares. O jogador que pode fazer várias posições no campo, médio ofensivo ou avançado, falso ala, extremo-direito ou esquerdo, pivot atrás do ponta de lança. O que cria superioridade no meio campo, parecendo jogar por dois na ocupação inteligente do espaço. Aquele que vai buscar jogo atrás, constrói com qualidade desde o primeiro passe ou que recebe de costas, mais à frente, para rodar o jogo no sentido inverso em velocidade. O que parte em contra-ataque com critério, sagaz na transição defesa-ataque, mas joga em avalanche ofensiva na maior parte do tempo. Tecnicamente evoluído, desmancha defesa com passes de ruptura, arranques curtos e rápidos mas nunca desiste de uma segunda bola no momento defensivo. O que é complementar, que organiza, capitaneia, cerra os dentes, mobiliza e não se furta à disputa na defesa de um colega de equipa. O que tem noção do tempo de jogo e do resultado, o que vibra com os valores que sente e tantas vezes carrega às costas até à exaustão. Um dos que consegue segurar a bola com agressividade e solta-la com noção, olhando-a no momento do passe enquanto inspira fundo e expira para aumentar a percentagem de precisão. O jogador que sempre teve assistências para dar mas que, evoluindo nos últimos anos, já tem golo para oferecer.
Este é o Otávio bom, elogiado e reconhecido, o que veste a camisola da Selecção há 6 meses. Este sempre foi o Otávio mau, achincalhado e insultado, o que veste de azul e branco há 8 anos.