PLANETA FUTEBO - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - Em tese, como este Ronaldo em busca de golos já não é o mesmo jogador explosivo que recuava na faixa esquerda e daí arrancava para a área, conciliá-lo com um ponta-de-lança mais clássico (o local onde ele hoje rende mais) quase obriga a Seleção a jogar em 4x4x2 para poder montar uma clara dupla no centro do ataque.
Em 4x3x3, essa possibilidade é, no sistema, inviável, porque nenhum deles é avançado de faixa, local onde, nos últimos anos, cresceu, Jota, Gonçalo Guedes ou Bernardo Silva, uma casta de vagabundos ofensivos com golo. O 4x3x3 tem, nesta perspetiva, uma deficiência de base na estrutura para dispor dois avançados estilo Ronaldo-André Silva.
2 - Fernando Santos encarou esse desejo frente ao Luxemburgo. O nível do adversário permitia a conjugação desses diferentes sistemas dentro da mobilidade de um 4x3x3, que começa no papel mas desfaz-se na relva através da possibilidade de um dos flancos ficar com uma espécie de "perna torta" (4x3x3 assimétrico).
Ou seja, tinha Bernardo Silva na direita, mas deixava a ala esquerda aberta para quem, alternadamente, a ocupasse. Na prática, era mais André Silva, deixando Ronaldo com toda a "casa nº 9 goleadora" para ele. Quando André Silva o ia visitar (batia sempre à porta antes de entrar, para não se sobrepor no seu espaço) ficava a faixa livre para as subidas do lateral Nuno Mendes.
3 - A entrada fácil no jogo (dois penáltis e uma rutura de Bruno Fernandes) acabou por, verdadeiramente, nem permitir ver essa dinâmica com a exigência pensada. Abanados com os erros e golos (cometidos e sofridos) tão cedo, o Luxemburgo não conseguiu sequer sair do balneário. Quando se apercebeu que estava em campo já perdia por 3-0 e, então, a preocupação passou a ser controlar o volume da goleada. Frustrante para um onze luxemburguês que tem crescido nos últimos anos (e até tem alguns bons jogadores, como Gerson, Barreiro e a família Thill).
4 - Por mais que tentemos "engordar" seleções como a Irlanda, Azerbaijão ou Luxemburgo, estas fases de apuramento tornaram-se uma ilusão competitiva. Mesmo a Sérvia, que joga bem, é um adversário instável. É impossível sentir e saber neste jogos qual o verdadeiro valor da Seleção, o seu atual nível, as opções táticas (forças e lacunas) frente a adversários que nunca testam o seu nível. Só quando se chega às fases finais e se encontram, em jogos a decidir, seleções igualmente fortes, é que percebemos verdadeiramente o nível em que estamos. E sofremos.
Por isso, cada vez mais estes jogos, tornando-se rapidamente fáceis, acabam, em rigor, por prejudicar o crescimento e solidez qualitativa. São meras simulações de competição.
Vendo seleções sub-21 e sub-20
A seleção sub-21 teve um início terrível na Islândia. O 4x4x2 losango sofre muito sem bola. A equipa demora a fazer as coberturas/basculações defensivas a meio-campo e a defesa fica exposta. Só a fabulosa exibição do guarda-redes Celton Biai salvou a equipa para, depois, estabilizando melhor a posse, ganhar o jogo com Fábio Vieira a fazer a diferença no vértice ofensivo do losango.
No vértice recuado, a 10, Tiago Dantas sabe tudo com bola no pé mas custa-lhe na recuperação. A posição fica taticamente desequilibrada a defender. Sempre consistentes Vitinha (que acabou a agarrar o onze a "6") e Gonçalo Ramos na frente (técnica e físico).
Em 4x3x3, a seleção sub-20 de Peixe trabalha bem a bola a meio-campo mas revelou, nos particulares contra Noruega e Itália, falta de entrosamento na relação faixas-zonas interiores, numa fase em que ainda busca um onze-base (sobretudo no jogo exterior, embora o canhoto Pedro Brazão saiba entrar e ler bem os espaços).
Gostei mais do jogo interior com João Daniel, a pivô, e Gui, n.º 8 rotativo, a mexerem "por dentro" num onze que tem um belo defesa-central (André Amaro) e revela, no ataque, um luso-francês repentista Mathys (da equipa B do Clermont) que, na faixa ou no meio, confunde defesas.