VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes
Corpo do artigo
"Todos contam" é uma expressão infinitamente repetida por qualquer treinador que queira ter o seu plantel na mão.
Não há jogador que não se sinta acossado pela juventude dos outros ou jovem que não aprenda com os mais experientes
Encerra, em si, uma demagogia "feita à maneira", como cantava Lena D" Água na ressaca da sua saída dos "Salada de Frutas". "É como queijo numa ratoeira", entoava o refrão. O peso relativo de cada jogador no balneário de uma equipa é uma arte de pesar espingardas, mas no que se refere ao jogo, lá dentro do campo, há uns que contam mais do que outros e assim sempre há de ser.
Não é preciso ser capitão ou voz de comando. Há jogadores que se impõem fruto do trabalho, naturalmente ou pela extraordinária qualidade que descarregam no jogo. Desconheço outra hipótese. Outros jogadores há que se afastam de uma posição de comando aos "dois pés que têm + cinco", ainda que correndo o mais que podem. Na liderança, a idade não é um posto mas ajuda. E é também por isso que o medo de errar, apesar da inesgotável fonte de irreverência e inconsciência dos mais novos, é mais admissível nos jovens jogadores do que nos mais experientes. Quando um jogador em idade adulta comete erros sucessivos provocados pelo medo, estamos no campo do complexo ou síndroma. Errar é humano, sim. Mas vão lá dizer isso ao Pepe ou ao Sérgio Oliveira.
A idade também se mede pela reação à perda e, no campo dos adeptos, a emoção é tempero muito comum para atirar a idade às trincheiras. Um pouco como se defender a entrada de Sérgio Oliveira na equipa fosse um atestado de degredo e degelo para Fábio Vieira ou Vitinha. Ou como se Corona à direita da defesa significasse um corte para a bancada nas asas de João Mário. Consoante o onze inicial e o resultado final, as opiniões dividem-se. No entretanto, a qualidade de jogo, aquele "fator futebol" que qualquer adepto preza mesmo que não confunda futebol com ópera. Enquanto isso, o treinador, aquele que "conta com todos", lê o jogo que aparece em sequência de um e na véspera do jogo seguinte e só pensa em fiabilidade.
Não é pelo facto de Sérgio Oliveira ter entrado, marcado e resolvido um jogo num golaço de livre. Não é por Fábio Vieira ou Vitinha (ambos com classe para dar e vender) terem sido os primeiros a sair de jogo com o Gil Vicente, como que acusando uma culpa que não tiveram. Não é pela idade, pela qualidade ou pela formação. É pelo lugar natural das coisas a acontecerem no seu tempo. Não há jogador que não se sinta acossado pela juventude dos outros ou jovem que não aprenda com os mais experientes. Mais semana, menos semana e pelo menos até janeiro, o lugar central do meio campo está reservado para Sérgio Oliveira, assim ele o queira assumir por inteiro. E esse facto nem tem que colocar Fábio ou Vitinha de fora do onze. Mas não há "sempre" em futebol e não é "todos contam", é complementaridade. O tempo, entre os adeptos, é de saber acabar com as trincheiras.