PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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Que a situação financeira do Vitória é delicada, é uma verdade conhecida de todos. Há poucos meses houve uma campanha eleitoral e isso foi dito e repetido. A nova direção confirmou-o a traços carregados, pois nestas coisas a realidade costuma ser sempre um pouco pior do que as nossas expectativas. Pelos vistos, era mesmo assim. Os vitorianos sabem disto, mas alguns parecem querer esquecê-lo.
O homem é o homem e a sua circunstância, já dizia um conhecido filósofo espanhol. E um clube de futebol também o é. Não adianta olharmos para o nosso emblema e projetar nele aquilo que achamos que ele devia ser, ou até o que ele merecia ser. A realidade é o que é a nossa vontade não a altera.
Por isso, olhando para as movimentações de mercado, temos o dever de perceber que o Vitória vai ser obrigado a tomar decisões que, em condições normais, não tomaria. Seja na aquisição de jogadores, seja na sua venda. Não perceber isto equivale a estarmo-nos a enganar a nós próprios, ou pior ainda, a queremos enganar os outros.
Veja-se o caso de Gui. Em condições normais, o Vitória não deveria vender o jogador. Por regra, como já aqui escrevi, o clube formador deve deixar o jogador crescer em rendimento, para o potenciar ainda mais e só depois vender. Isto, a menos que surja uma proposta irrecusável de tão alta que é. Os valores de que se fala não são irrecusáveis. Mas num ano como este, com a corda na garganta, parece-me óbvio que o Vitória tinha que vender.
A isto soma-se outra coisa. Os clubes interessados nos nossos jogadores também sabem o estado na nau vitoriana. E por isso, quando se sentam à mesa das negociações partem em vantagem, como qualquer pessoa que alguma vez tenha negociado algo sabe muito bem.
Gerir um clube nesta conjuntura não é nada fácil. Dir-me-ão que quem para lá foi sabia bem disso e é verdade. Mas tal não altera a realidade das coisas. As tais "circunstâncias".
Tudo isto requer, da nossa parte, a necessária dose de paciência, ou então acabamos como aquele fidalgo arruinado, que exibe perante a sociedade, cheio de manias e de peito feito, os seus títulos, brasões e comendas, mas que depois anda de meias rotas, pois já não lhe sobra dinheiro para mais nada.