A opinião de Gil Nunes, para ler aos domingos n'O JOGO.
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Comem tudo e não deixam nada. Sugar os espaços, reduzir as forças do adversário e adquirir supremacia natural a partir daí. Na realidade, o FC Porto que venceu o Marítimo começou a ganhar o jogo a partir da sua linha mais avançada, que praticamente adivinhava para onde o adversário pretendia passar. E assim recuperava o espaço que queria. Muito trabalho de casa (horas de vídeo) e aplicação direta no jogo.
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Depois, o dragão tapa as suas debilidades e prepara-se para o que aí vem. É o esquerdino Marcano, a antecâmara de David Carmo. E Namaso não é Fábio Vieira, mas colocá-lo em campo provoca dois benefícios: um de curto-prazo, relacionado com a alimentação do espaço entrelinhas; e um mais vindouro, preparando a equipa para um jogador mais propenso ao desequilíbrio no último terço, como é André Franco.
Porque no FC Porto não há jogadores contratados para uma determinada posição. Há, sim, jogadores contratados de acordo com as suas características: veja-se o caso de Pepê, que agora joga em zonas interiores e até vai buscar jogo junto dos seus centrais.
Nota 8 - Simon Banza: basta escreve-se com "V"
Falar de Simon Banza é dar pleno mérito a um elemento com golo no sangue e que começou a temporada em excelente plano. Frente ao Sporting, o golo apontado revela aquela solução inesperada de quem está habituado a finalizar. Mas falar de Banza é destacar o papel de Vitinha, um parceiro de ataque que o complementa na perfeição. Ainda frente aos leões, Vitinha "massacrou" Inácio o jogo todo, bloqueando uma eficaz saída de construção e provocando desgaste físico na linha defensiva. E desgaste provoca menor discernimento, sobretudo nos últimos minutos de jogo. Frente ao Famalicão a dupla voltou a brilhar e a afinação demonstrada promete causar sensação ao longo da temporada.
Nota 7 - Tiago Gouveia: aquela receção orientada...
Um jogador não se define num só jogo mas há pormenores que nos fazem levantar do sofá. Desde logo a receção orientada após passe longo que originou o primeiro golo do Estoril. É de craque! Dotado de técnica, velocidade e robustez física, há outro detalhe que também se evidenciou: a apetência para fletir em diagonal a partir da direita e finalizar com o pé esquerdo. Também é de craque! E, também, a sua aguçada leitura de jogo e definição de assistência para golo: como aconteceu no segundo golo, apontado por Arthur Gomes (também em bom plano). Emprestado pelo Benfica aos canarinhos, os primeiros sinais são de arromba.
Nota 7 - Kevin Medina: resposta pronta
Uma dupla responsabilidade: substituir Samuel Lino como eixo de desequilíbrio da equipa do Gil Vicente; e assegurar um rendimento condizente com o estatuto de contratação mais cara de sempre do clube. Depois de no jogo da Letónia ter sido o responsável pelo desequilíbrio que originou o golo de Boselli, Ivo Vieira deu-lhe a titularidade na partida da 2ª mão e, em Barcelos, acrescentou a "pedrada no charco" de que a equipa necessitava. Técnica, imprevisibilidade e um excelente e "sereno" remate em arco no lance do segundo golo, que provou que a classe mora lá. Ainda muito jovem - 21 anos - apresenta atributos muito interessantes.
Braga. Mais do que os resultados
São 2 jogos, 6 golos e uma importante conquista emocional: a reação no momento da desvantagem. Quem marca 3 golos ao Sporting tem obrigação de vencer o jogo, mas são poucas as equipas que recuperam três vezes quando estão a perder. Al Musrati é um dos melhores da liga e o Braga apresenta rendimento de candidato ao título.