PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 O golo de Chiquinho desbloqueou os espíritos (pelo efeito no resultado) mas o verdadeiro momento em que pressenti a mudança do jogo do Benfica em Barcelos foi quando entrou Musa.
O ataque encarnado, órfão do melhor Rafa (a boa forma desaparecida) necessita hoje de um jogador destes, exemplar de nº9 finalizador, de movimentos finos e bom jogo de cabeça, e, sobretudo, também capaz de jogar com a equipa e, em apoios (de costas) também a fazer jogar nos últimos metros ofensivos.
O lance do golo teve essa origem até a bola entrar limpa e (no momento certo) no espaço vazio para o centro de Aurnes.
Gonçalo Ramos continua a ser um nº9 de golo/finalizador importante, mas as equipas são seres vivos que mudam de necessidades em função dos momentos táticos-mentais que atravessam na aplicação do seu modelo de jogo.
Musa tem o traço da precisão que falta no atual contexto de ansiedade do jogo atacante benfiquista que quer fazer as coisas sempre depressa demais. Tem jogo e tem golo. É a posição nº9 como pivô de costas a primeiro olhar a equipa, de costas para a baliza e, depois, a virar-se para ela. Parece simples. Torna as coisas (mais) simples.
2 Quando um treinador faz três substituições ao intervalo pode, muitas vezes, não estar zangado com os jogadores que estão em campo, mas sim com a forma como a equipa está a jogar e ter a visão de que ela precisa de coisas novas (em termos de jogo e características dos jogadores para o mudar).
Foi por isso que Conceição fez, contra o Boavista, aquela tripla substituição nessa altura. Óbvias na entrada do extremo para dar maior largura com profundidade veloz na faixa (Galeno) e do ponta-de-lança mais agressivo na luta por todas as bolas na área (Martínez em vez da fora de forma Evanilson).
A substituição mais importante para o jogar da equipa foi, porém, a outra (menos óbvia), André Franco, que na relação entre a faixa (meia-direita) e o centro, tanto deu apoio à largura (tabelas com Pepê que foi para lateral profundo a subir) como deu mais consistência à construção e posse ao meio-campo (quase terceiro médio mais solto, tendo então Otávio a nº8).
Já no jogo anterior, em Paços, a sua entrada tivera um significativo impacto tático. Sabe, discretamente, meter-se nos espaços decisivos do jogo sem que os adversários detetem a sua importância modificadora (pois não tem a evidente visibilidade do extremo e do ponta-de-lança) e, no passe simples e jogo posicional que cria outras linhas de passe, dá o complemento de ordem construtiva que o coletivo precisa.
E, depois, nos lances decisivos, meteu-se na área, e sofreu/provocou os dois penáltis que desbloquearam a vitória. Não foi por acaso.
Boavista: bloco fixo ou móvel
O plano de jogo desenhava um 4x3x3 mas pensado, essencialmente, para viver na maior parte do tempo em organização defensiva estruturava-se quase sempre num 4x4x2 com duas "linhas de 4" com zona de pressão central e a fechar muito bem em largura. Desta forma, o plano axadrezado de Petit manietou o jogo portista (por dentro e por fora). Não teve, ao mesmo tempo, saída na transição defesa-ataque (apoiada ou na profundidade) porque estava com o foco quase todo nesse rigor defensivo, mas quando ficou a perder e, sobretudo, com mais um jogador, soube mudar o "chip" e soltar-se para a outra metade de jogo, a ofensiva, em 4x3x3 (com Gorré a agitar em velocidade com posse de um-para-um) e, no fim, em 4x4x2 (com Bozenik, a segundo ponta-de-lança, um nº9 que não percebo não jogar mais vezes tal a qualidade de movimento fino e finalizador que pressinto nele, num estilo parecido a Musa).
O Boavista de Petit é (talvez com o Portimonense de Paulo Sérgio) a equipa que já andou por mais sistemas esta época, mas em todos, mais do que meras questões estratégicas de jogo, deu sempre maior solidez e soluções táticas sustentadas à equipa. Tem ordem defensiva e visão para olhar o jogo mais longe. Uma simbiose alternada personificada em Seba Perez.