APITADELAS - Uma opinião de Jorge Coroado
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Ter conhecimento e compreender é o primeiro passo para a verdadeira afirmação em qualquer atividade, em qualquer setor da sociedade. Mais importante ainda, é absolutamente crítico saber-se quem se é, como somos, o que se faz, porque se faz.
Dirigir um jogo de futebol, se bem que alguns apregoem arduidade da função, não é, seguramente, a coisa mais difícil desta vida, nem hoje, nem outrora
Dirigir um jogo de futebol, se bem que alguns gostem de dourar a pílula e apregoar arduidade da função, não é, seguramente, a coisa mais difícil desta vida, nem hoje, nem outrora. Complicada é a exigência que se oferece à generalidade das famílias para diariamente conseguirem cumprir responsabilidades das quais não podem eximir-se.
A arbitragem, que nos tempos que correm é via profissionalizante para gente indisponível para outras atividades, também por, sobretudo ao nível cimeiro, propiciar rendimentos incomuns à maioria dos trabalhadores, podia e devia ser mais cumpridora, exigente e rigorosa na assunção das suas obrigações.
Nos muitos anos de ligação ao setor, não terei percecionado um único elemento que, no desempenho da função, revelasse sentimento distinto da emulação própria. A ânsia por chegar além, demonstrada no desrespeito por princípios éticos e deontológicos que, não sendo regulados, deviam e devem presidir quando em confronto sobrevêm objetivos transversais a todo um grupo, sempre foi algo a recordar a chegada das galinhas ao poleiro.
Poucos percebem a arbitragem como questão de escala - de quanta liberdade pessoal se está disposto a abdicar e de quanta liberdade do medo se está disposto a receber! Sol na eira, chuva no nabal, nem mesmo com as alterações climáticas ora existentes. De facto, querer integrar desporto mediático e não ser escrutinado, é idêntico a comer-se tremoços com garfo e faca.
Distanciamento
"Digo-te que há um muro, com três metros de largura e dezasseis de altura, entre pai e filho" - George Bernard Shaw, em Misalliance. Adaptada à arbitragem, a frase reflete o distanciamento existente entre a classe e a estrutura dirigente, só mitigado quando uma das partes necessita de outra para alcançar intenções. Os primeiros, reconhecedores da ausência de autoridade e de manifesta atuação parcial dos segundos, seguem ditames sem Rei nem Roque. De facto, as diretivas e anunciados rigores iniciais, por árbitros percecionarem quão falhas de bom senso se mostravam, esmoreceram.
Império
Há pecados imperdoáveis, outros que são habilmente justificados. Recusar aturar todas as tretas exercidas por gente indigna de consideração, talvez seja pecado mais acintoso por quem adentra na arbitragem. Sai caro chamar alguém, merecedor do epíteto, de idiota sem princípios, corno cínico até última instância, merdoso conivente e parvo monumental, mesmo sendo verdade. Queira-se ou não, tal como na vida, no futebol, nunca se é demasiado velho para aprender algo novo sobre a natureza humana, como influenciar pessoas e fazer "amigos", gerir um principado ou império "mafioso".