PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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1 - São apenas quatro jogos e parece que já foi o campeonato inteiro.
A confirmação de João Neves: são apenas quatro jogos e parece que já foi o campeonato inteiro. No Porto, pode nascer um novo Veron?
João Neves entrou no onze do Benfica para, como constatou Schmidt, dar "coisas especiais diferentes", num jogo, com a Luz repleta contra o Estoril, em que após derrotas com FC Porto e Chaves, a bola queimava nos pés dos titulares consagrados mas subitamente postos em causa. Desde a primeira jogada disse que sabia lidar tão bem com essa pressão como com a bola. E, assim, o meio-campo encarnado ganhou um "baixinho" com intensidade de técnica e tática (as únicas duas boas razões que conheço para correr num relvado de futebol).
A expressão manteve-se nos jogos seguintes. Mesmo com o clamor de análise (minha, confesso) de que, OK, jogava muito bem mas precisa de ter um nº6 mais trinco atrás como Florentino (em vez do melhor passe mas "intensidade light" de Chiquinho), Schmidt manteve-o sem guarda-costas. E Neves até ganhou bolas divididas. Como na origem do golo ao Braga. Tudo com a imagem dum jogador à moda antiga com a camisola dentro dos calções. Em Portimão, voltou a pegar na bola, no jogo e no destino dos dois ao mesmo tempo. O jogo tornou-se fácil.
O Portimonense quis inventar um novo trinco à pressa (Pedrão, para fazer, sem sucesso, o mesmo trabalho bífido de subir a recuar, entre nº6 e central, que fizera, impecável, William, até ser vendido, fazendo variar os três centrais ou linha de 4) mas nunca conseguiu definir um plano para travar Neves.
A goleada foi sendo construída sem ansiedade e a bola que antes queimava passou a ser recebida com agrado. Após jogar sobre brasas, a equipa, pela mão (perdão, pelas botas), dum menino de 18 anos, voltava a ser adulta técnico-taticamente para mandar no jogo.
2 - Com o jogo bloqueado perante um onze do Casa Pia fechado atrás mas perigoso a sair no contra-ataque (enquanto dura a força e está no estímulo certo para competir, Godwin é um avançado-monstro terrível), Conceição abriu o campo todo e lançou Veron quando já tinha no outro flanco Galeno. Dois extremos para voar em cima da defesa adversária.
Há muito que não víamos Veron. Entrou bem, ganhou logo uma bola em cima de Zolotic, central do Casa Pia que adormecera, e deu o golo do empate. Seria Galeno a detonar, com as suas constantes explosões (embora vezes demais mal finalizadas) a "organização ganso", desgastando-a, mas em Veron viu-se muito do que é o trabalho invisível de Conceição para ele ser o jogador que o treinador quer e não apenas o que era (avião de papel de piques) no Brasil. Até no físico vê-se que está mais corpulento.
Veremos se, mais do que o mudar pelo músculo, muda no entendimento mais exigente do jogo europeu. Talento tem. Nível de aprendizagem, esperemos que também.