PASSE DE LETRA - Uma opinião de Miguel Pedro
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Durante o jogo de quinta-feira, contra o Estrela da Amadora, e após o SC Braga ter marcado o seu terceiro golo, os comentadores da SportTV enfatizaram a circunstância da equipa arsenalista estar, até esse momento, com a baliza intacta.
Às vezes, na Champions, é preciso ter as ferramentas para defender, defender...
Comentando várias vezes o facto do Braga ter sofrido golos em todas as anteriores jornadas, a circunstância do Braga não ter sofrido, até aquele momento, qualquer golo parecia quase mais importante do que ter já marcado três. No final do encontro, na flash interview, o jornalista lá inquiriu Artur Jorge sobre o Braga ter falhado o objetivo (!?) de ter mantido a baliza sem sofrer golos, o que foi - e bem - desvalorizado pelo treinador, que lembrou que o verdadeiro objetivo de um jogo de futebol é sempre marcar mais golos do que os que se sofrem.
Se for sempre assim a equipa ganhará todos os jogos. É evidente que as coisas não são assim tão simples. Numa reportagem publicada neste jornal durante a semana que hoje finda, Artur Jorge assumia que, da forma como o atual SC Braga joga (sempre no meio-campo adversário, numa procura constante de golos), sofrer golos torna-se uma probabilidade estatística maior.
De facto, os últimos dois jogos (Boavista e Estrela da Amadora) são espelho do que o treinador bracarense refere: 44 remates à baliza, dos quais 22 enquadrados, resultando em oito golos marcados, mas também três golos sofridos. Estes números, que refletem a forma ofensiva (e com muita posse de bola) com que o Braga abraça os jogos do campeonato, são, no fundo, resultado de alguma superioridade (pelo menos, teórica) do plantel bracarense face à grande parte dos restantes plantéis.
É natural que a atitude do Braga seja de ataque continuado; mas isso poderá, de alguma forma, impedir a assimilação daquelas rotinas defensivas, próprias das equipas que têm de jogar mais sobre a defesa? É uma pergunta pertinente, pois a superioridade (teórica) esbate-se, evidentemente, na Liga dos Campeões, onde o Braga terá de ser uma equipa mais defensiva, a jogar mais no seu meio-campo do que normalmente faz. Às vezes, em contexto de Champions, é preciso ter as ferramentas para defender, defender, defender. E espreitar um lance de génio, uma escorregadela do adversário ou, simplesmente, que este tenha um dia em que tudo corre mal. Eu sinto que o futebol é melhor com equipas que procuram sempre o golo (mantendo o equilíbrio possível entre os setores).
Prefiro vencer por 5-4 do que por 1-0. Mas isso não poderá distrair a equipa dos processos defensivos, que serão essenciais naqueles confrontos entre David e Golias, como os que iremos encontrar já em Berlim. Defendam bem e preparem bem a vossa fisga, rapaziada...