PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - Não sei até que ponto é possível controlar a mente mas pela teoria dos estímulos existem formas de a soltar. O Braga voltou a bloquear num chamado jogo grande. Foram vezes demais esta época para uma equipa com jogadores já capazes de serem donos de outra forma mental e tática de encarar estes jogos. O único deles, na época, que soube verdadeiramente jogar (o tal do 3-0 ao Benfica) foi o único que surpreendeu controlando pelo meio-campo (introduzindo então um 4x3x3 que nunca utilizara).
Artur Jorge não quis ir por esse caminho tático (o meio-campo e não a defesa como epicentro do jogo e da estratégia) na final da Taça contra o "FC Porto do jogo interior forte" e voltou a deixar a equipa sem portas de saída na transição defesa-ataque. Ou seja, sem os estímulos táticos certos e mentalmente, estranhamente, presa dentro das suas dúvidas (o que nunca lhe permitiu entrar no jogo nem fazer uma jogada de perigo). Viu-se, vindo de lesão, só "meio Al Musrati" e, assim, a pressão alta do FC Porto impôs-se para meter o jogo sempre em cima da área bracarense. Dominou, Matheus defendeu, insistiu, marcou, controlou, voltou a marcar.
2 - Conceição termina a época podendo dizer que o FC Porto é a equipa que está jogar melhor (ou é mais forte) mas, no discurso, demasiado agarrado ao "se" da primeira volta, onde a equipa, condicionada pelas saídas (Vitinha, sobretudo) e em dúvida sobre como iria montar o seu novo meio-campo, hesitou e mudou demais estrutura e intérpretes (vagueando por variantes dos sistemas, do 4x3x3 assimétrico ao 4x4x2 losango).
A principal consequência nefasta de tudo isso para a forma de jogar da equipa, pensando no modelo-Conceição, foi como tal lhe retirou a agressividade e o timing certo de pressão coletiva. A equipa passou a falhar nesse momento em que era implacável e sem isso passou a desequilibrar-se na transição defensiva por não reagir da melhor forma à perda da bola (perdeu pontos assim, em jogos contra adversários frágeis).
Quando, por fim, resgatou outra vez esse poder sincronizado coletivo de pressão, permitindo ao seu bloco estacionar-se alto sem riscos de ficar desequilibrado no momento da perda, voltou a controlar jogos e qualquer tipo de adversário (não os deixando sair para o contra-ataque). O jogo da final foi um exemplo perfeito disso por como amassou, metendo atrás desde o início, o Braga, não o deixando sequer respirar para sair.
Foi uma final demasiado desequilibrada no jogo jogado para o que se esperava. O Braga necessita de repensar como abordar estes jogos. O FC Porto precisa de não voltar a começar a época (agora com a saída de Uribe) com tantas hesitações no centro do seu jogo.
A atitude antes das ideias
Quando vi Riascos saltar para aquecer sozinho tão cedo (cerca dos 20 minutos), percebi que José Gomes estava a ver a mesma equipa que, seguindo pela TV, sentia com a cabeça fora do jogo. Sem agressividade, o Marítimo arriscava-se a perder o play-off nesse primeiro jogo numa Reboleira renascida, que empurrou o Estrela para um jogo seguro e ofensivo com critério (soube correr riscos que... tinha de correr). Guzman encheu o meio-campo, Jean Felipe fez toda a faixa direita sem perder fôlego, Ronaldo Tavares é um nº9 que ainda pode ser mais bem trabalhado (tem muito futebol).
No fim, José Gomes falou da falta de humildade da equipa. É, numa acusação inclemente, algo que sentiu-se vezes demais na época. Jogadores com valor a pensar que estão noutro local, equipa e situação. Mexeu bem ao puxar Xadas para dentro, quase obrigando-o a entrar no jogo e não (com tanto talento que tem) a ficar à espera que ele (a bola) venha ter com ele.
A segunda mão pode estimular mais este tipo de jogadores mas o onze de Sérgio Vieira tem noções de bloco e velocidade na frente para assustar. Mais uma vez, fico com a mesma sensação que tenho ao ver estes decisivos play-offs de divisões diferentes de fim de época: é um confronto entre duas mentalidades (atitudes) antes de duas ideias.
MODELOS
André Soares: mas, porquê?
Vejo-o jogar e pergunto como tanta técnica, pé esquerdo com olhos, nunca saltou para o alto nível. André Soares fez 33 anos e para trás está uma carreira, com formação até sub-19 no Benfica, andando escondido por divisões secundárias. Não sei foi atitude, a vida, enfim, tantas coisas. Sei que vejo o Vilaverdense jogar esperando que a bola vá ter com ele. Sabe sempre como a receber e tratar. Tem traços do nº10 da velha burguesia e gestos de quem sabe mais do que os outros. A bola que corra. Ele é para jogar.
Rio Ave: outro tempo
O Rio Ave vai perder o presidente que nos últimos 15 anos lhe deu estatuto de clube de primeira (mesmo, paradoxalmente, tendo descido porque a equipa muitas vezes é diferente do... clube). Soube ter e manter as parecerias certas. Refez-se rapidamente. O clube, tem, acredito, solução interna. O perigo é, porém, ela não poder-se valer por si própria e sobretudo porque, ao contrário do tempo anterior, as parecerias (de estrutura e fora delas) poderem agora ser diferentes. O "futebol dos empresários" é diferente do "futebol dos negócios". O Rio Ave é um clube (sossegado, com adeptos calmos) apetecível para ambos. Só um, porém, pode servir-lhe como apoio. Na medida certa.
Atlético: sobe Tapadinha!
Dos emocionantes jogos de decisão de subida no Campeonato de Portugal, o histórico Atlético (e sua lendária Tapadinha) saltou para a Liga 3. Uma subida conquistada em Pêro Pinheiro por um onze que soube atacar e resistir ao jogo. Na frente, com Luisinho e Tiago Rosário (23 anos para seguir), teve dois avançados para toda largura do ataque. Controlando por trás, Lénio Neves (também 23) é um médio-centro com traços de jogo interessantes (juntou linhas). Nesta ligação de setores, a equipa soube ser melhor na hora decisiva.