HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Querer contratar um jogador como se não houvesse amanhã. Tal como aconteceu em 2006 com Co Adriaanse que quis trazer para o FC Porto um avançado holandês chamado Vennegoor of Hesselink, que supostamente iria resolver todos os problemas da frente de ataque. Hesselink não veio, Adriaanse saiu e o FC Porto continuou a ganhar. E o pensamento mantém-se até aos dias de hoje: não há réplicas dos que saíram nem soluções milagrosas. Há sim trabalho prévio de qualidade, o mesmo que em 2019 trouxe Luis Díaz da Colômbia em vez de Bruma.
Mas há jogadores diferenciados. Como acontece com David Carmo que, para além de outros atributos, é um jogador esquerdino e com capacidade de construção, algo que não é muito usual na posição de central. Um pequeno gesto - sair a jogar naturalmente pelo lado esquerdo - que pode valer milhões no rendimento da equipa. Porque às vezes ganha-se a pensar de forma diferente e a mudar a ordem natural das coisas. Veja-se o Sporting: campeão há duas épocas no "bizarro" 3x4x3 e fomentador, na temporada passada, de jogos em que teve sete ou oito esquerdinos em campo!
Rochinha Amorim adora versáteis
Se bem que se possa argumentar tendo em conta as necessidades financeiras imediatas e o facto de estar em último ano de contrato, certo é que Rochinha vale bem mais do que os dois milhões de euros que o Sporting pagou ao Vitória para o contratar. Com garantia de rendimento imediato, trata-se de um elemento com capacidade para atuar em toda a linha da frente e, também, com golo e assistências no seu ADN. Muito coletivo, entende as competências da equipa, acelerando ou desacelerando consoante a perceção rápida que tem das situações. Se Amorim adora jogadores móveis e versáteis, então contratar um desses a preço reduzido é mesmo um grande negócio.
Eustáquio: as fichas certas
Sem o fantasma de Vitinha mas com a certeza de que o trabalho está a ser bem feito e é para continuar. Mais do que recorrer ao mercado de forma precipitada, o FC Porto preferiu (e bem) assegurar a continuidade do trajeto de desenvolvimento de um jogador de tremenda qualidade. Com uma capacidade de passe que impressiona - mesmo em situações altamente congestionadas - a versatilidade de Eustáquio faz com que possa dar respostas em várias zonas do miolo. Atento no plano defensivo e com os olhos sempre postos na baliza contrária, teve a justa recompensa: continuar para jogar mais, continuar para se impor de dragão ao peito.
Taarabt Se a coisa corre mal...
Tem uma série de imperfeições - leia-se resposta física inconstante e transições defensivas ineficazes - mas dispõe de algumas características únicas e diferenciadas: desde logo a capacidade de ligar os setores em progressão, com determinação e sem medo de ter a bola nos pés. Depois de recuperado por Nelson Veríssimo - o mesmo aconteceu aquando da passagem de Bruno Lage - o futuro de Taarabt permanece incerto, com várias abordagens de clubes do mundo árabe a colocarem um ponto de interrogação na carreira. Tal até se compreende mas, valha a verdade, se as coisas correrem mal dá sempre jeito ter um Taarabt por perto.
Darwin: o melhor da Liga
Foi eleito pelos capitães e treinadores o melhor da liga transata e a decisão é soberana. Sem colocar em causa a valia do atleta, certo é que desportivamente o Benfica não conquistou qualquer troféu. E fica a questão de que os troféus não se medem ao quilómetro: porque Luis Díaz, com meia temporada, esteve vários furos acima dos demais.