PASSE DE LETRA - Opinião de Miguel Pedro
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Na Premier League, a forma de arbitrar os jogos alterou-se nesta época. As instruções transmitidas aos árbitros pretendem ser um revivalismo de um futebol inglês "anos 80", muito físico e agressivo. A ideia é deixar jogar, não estar sempre a parar o jogo com faltas e faltinhas.
No fundo, regressar à ideia que, há duas e três décadas, nós tínhamos do futebol inglês e que nos levava muitas vezes a ajuizar lances em Portugal com a expressão "Em Inglaterra, esta falta nunca seria marcada".
Além disso, pretende-se desvalorizar o uso da tecnologia (o VAR) em ambiente de jogo, engrossando as linhas de fora de jogo e limitando a intervenção ativa do VAR. Mas, logo na primeira jornada, as reações dos intervenientes - jogadores e treinadores - foram profundamente negativas. "Passámos de um extremo para o outro", afirmou o treinador do Manchester United, Solskjaer, vaticinando: "Se é esse o caminho que querem seguir, vamos ter lesões. Espero que se consiga encontrar um meio termo".
Iguais críticas foram proferidas por Jurgen Klopp, treinador do Liverpool, que se mostrou muito cético sobre estas novas orientações, que, além de perigosas para os jogadores, aumentam em muito a discricionariedade dos árbitros. E bem sabemos que a discricionariedade na aplicação de critérios pelos árbitros é algo que gostaríamos de ver limitada e é essa a razão de ser da introdução da tecnologia no auxílio ao julgamento dos árbitros.
Mas isto dos critérios dos árbitros tem muito que se lhe diga. Ainda recentemente, em dois jogos seguidos e em dois lances de contexto semelhante, o Braga se viu confrontado com duas decisões bem distintas (e, infelizmente para nós, decididas em nosso prejuízo).
Um dos comentadores de arbitragem deste jornal, na sua habitual coluna de análise, descreve e ilustra perfeitamente os lances. No jogo contra o Moreirense, descreve assim as circunstâncias que estiveram na base da marcação da grande penalidade contra o Braga: "Steven Vitória (Moreirense), inteligente, com pé esquerdo pontapeou pé direito de Lucas Mineiro (Braga), forçando queda que redundou em penálti indevidamente assinalado".
Já no jogo contra o Vitória, um lance na área vitoriana é assim descrito pelo mesmo comentador: "Na sequência de pontapé livre, Borevkovik (Vitória), com ambas as mãos, empurrou Lucas Mineiro impedindo-o de chegar à bola. Notório penálti favorável aos da casa que ficou por penalizar". As fotografias que ilustram a peça são esclarecedoras da descrição dos lances.
Diferentes critérios de julgamento e diferentes critérios no pedido de ajuda ao VAR (no lance em Moreira de Cónegos, o VAR confirma o penálti - o que é espantoso, porque todos estávamos a ver o mesmo, que o contacto foi provocado pelo jogador do Moreirense; no jogo contra o Vitória, nem sequer é solicitado o auxílio do VAR; porquê?).
Tamanha é a diferença em critérios aplicáveis a situações idênticas, que se querem uniformes, que apetece dizer como o Vasquinho da Anatomia, no filme Canção de Lisboa: "Critérios há muitos, seu palerma".