HÁ BOLA EM MARTE - Um artigo de opinião de Gil Nunes.
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Foi o melhor do mundo, é um dos melhores de sempre e representa um caso de resiliência ímpar. Ter 37 anos sufoca-o todos os segundos.
Cristiano Ronaldo quer de lá sair e fez do United a sua camisa: encheu o peito de ar e com um grito poderoso arrebentou com tudo. Por alguma razão que possa ter, certo é que ninguém fica indiferente à sua entrevista.
Só se escala verdadeiramente a montanha quando também se desce. Como fez Ricardinho no futsal. Ou Federer no ténis. Não deve ser fácil ser Ronaldo mas também não deve ser fácil não ser Ronaldo. O que será que os restantes 25 selecionados preferem? Lidar com os holofotes sempre centrados no mesmo? Ou então lidar com um mediatismo mais disperso?
Ter CR7 na equipa pode ser um privilégio, mas também um incómodo. Ficará ao critério de cada jogador que não escolheu a circunstância, mas tem de se adaptar a ela. Daí também se perceber que contratá-lo é sempre um risco: se corre bem, contrata-se um fora de série; se corre mal, é um berbicacho daqueles. É sempre mais segura a terceira via: contratar outro jogador.
9 João Félix: JF "Kualidade"
O Portugal-Nigéria foi a partida em que João Félix apareceu mais solto de amarras táticas e, por conseguinte, o seu talento brotou de forma natural. Mesmo pegando no jogo em zonas mais recuadas: isolou Dalot no lance do primeiro golo e, já perto do intervalo, colocou Bruno Fernandes em posição privilegiada para finalizar. E João Félix provocou benefícios indiretos: desde logo a potenciação de Bernardo Silva em zonas mais centrais, acrescentando o critério que deve imperar numa equipa recheada de qualidade técnica. Ambidestro e de tiro fácil, esteve muito perto do golo na segunda parte. A este ritmo promete ser uma das figuras da equipa nacional no Catar.
8 Otávio: Sérvia e Espanha
Não foi só pela sua ausência, é certo, mas também não há coincidências: Otávio não jogou nos últimos dois desaires de Portugal (Sérvia e Espanha) e tal fez-se sentir. Porque rende em qualquer modelo tático e permite ao técnico fazer várias alterações durante a partida, conferindo sempre qualidade assinalável seja qual for o desenho idealizado. Frente à Nigéria, não hesitou em desempenhar um importante papel de sombra, dando espaço à criatividade de Bruno Fernandes, Bernardo Silva (fundamental) e João Félix. Deu ainda robustez à qualidade de construção em zonas povoadas que William acrescenta. Em excelente plano.
8 Henrique Araújo: para todos os gostos
É sempre especial marcar um "hat-trick" mas o que interessa relevar é que todos os golos foram obtidos de forma diferente. Dois deles resultaram do entendimento - um segundo antes que todos os outros - de magníficos passes de Gonçalo Inácio e Fábio Vieira. Muito móvel e com capacidade para atuar em todas as zonas da frente de ataque, Henrique Araújo vai mostrando atributos na seleção de Sub-21 que consolidam um trajeto de desenvolvimento afirmado também no Benfica. Destaque também para os seus constantes movimentos de rutura e capacidade para ligar linhas, nunca deixando a frente de ataque em terra de ninguém.
Fábio Carvalho: por SMS?
Que o digam Diogo Costa e Vitinha: a seleção de sub-21 é a antecâmara da seleção principal. Fábio Carvalho tem outro entendimento. Três reflexões: comunicar por SMS não se faz; Fábio Vieira, por exemplo, não está maluco; depois, ficar fora do radar próximo de uma das melhores seleções do mundo não é muito sensato.