VELUDO AZUL - Opinião de Miguel Guedes
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No encerramento da contenda, nenhum portista consegue deixar de pensar que o cortar da fita da maratona estava perfeitamente ao nosso alcance. Fecham-se as contas do campeonato e assoma o espectro dos pontos perdidos.
Antes de ficarmos a virtuais treze pontos e de sairmos da Luz a sete, já havíamos jogado um jogo anónimo no Jamor frente ao Casa Pia bem no início do ano. Para trás, um empate forasteiro perante o líder dos últimos (Santa Clara), o empate "in extremis" no Estoril e a primeira parte de pesadelo frente ao Rio Ave. Mas foi nos jogos em casa que o FC Porto assinou por baixo a vice-liderança: na derrota frente ao Benfica e no teatro do absurdo que foi a derrota frente ao Gil. O empate em Braga pode ser encarado com alguma normalidade, mas nada justifica tamanha irregularidade numa equipa que foi capaz de ganhar os últimos onze jogos (nove para a Liga) numa altura em que já tudo estava (quase) perdido. Os resultados indicam crescimento e boa forma para a final da Taça de Portugal. Mas não chegou para o objetivo maior.
O sentimento da época é que conseguimos dois títulos (estando na luta final para o terceiro) mas desbaratámos duas oportunidades. Não se pode ganhar sempre, diz-se. Porém, é inevitável afirmar que podíamos ter sido campeões nacionais e ido mais longe na Liga dos Campeões após a tão injusta saída de cena frente ao Inter de Milão. Se na Liga portuguesa dissertámos sobre a irregularidade, na Champions foi mesmo azar ao jogo. Num ano atípico que nos poderia ter levado a uma final europeia (uma final entre o Manchester City e o Inter só o comprova), cerrámos cortinas com dois amargos de boca.
Ficou mais do que provado de que, para o FC Porto, cumprir calendário não é apenas comparecer aos jogos. Nesta reta final, a aproximação ao Benfica mostra um caráter hercúleo, crescimento e crença, notável capacidade para resistir e vencer em circunstâncias onde tantos outros definhariam. Que a final da Taça de Portugal confirme a sensação de que o próximo ano será o "ano sim" da já cíclica alternância de Sérgio Conceição enquanto campeão nacional e vice-campeão. A verdade também está nos números: com Conceição, sempre que não fomos campeões acabámos em segundo, apurados para a Champions e a curta distância do líder. A melhor rampa de lançamento para a próxima época é o estofo de campeão 23/24 que esta equipa mostrou.